O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apertou as rédeas, nesta terça-feira (25), contra Venezuela e Irã: disse que o presidente venezuelano pode ser "derrubado muito rapidamente" por militares, anunciou novas sanções contra a esposa e os colaboradores de Nicolás Maduro e também pediu para "isolar" o regime iraniano.
O governo de Maduro "é um regime que, francamente, poderia ser derrubado rapidamente pelos militares se estes decidissem fazer isso", declarou Trump a jornalistas na sede da ONU.
Pouco antes, em seu discurso à Assembleia Geral da ONU, Trump lamentou a "tragédia humana" que a Venezuela vive, e que há poucos anos era "um dos países mais ricos da Terra" e que hoje está "arruinada" pelo socialismo, que, disse, conduziu "seu povo à abjeta pobreza".
"Pedimos às nações reunidas aqui se unam a nós no pedido de restauração da democracia na Venezuela", afirmou.
O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, acusou o presidente dos Estados Unidos de aproveitar o espaço na ONU para promover a "desestabilização" da Venezuela para fins eleitorais.
"Agredir Venezuela, Cuba, é receber votos para ganhar na Flórida, para ganhar no Congresso nas eleições de novembro e para continuar para trabalhando na reeleição", disse.
Nesta terça, os Estados Unidos impuseram mais sanções contra pessoas próximas a Maduro: a primeira-dama, Cilia Flores; a vice-presidente, Delcy Rodríguez; o ministro de Comunicação, Jorge Rodríguez; e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López.
"Não se metam com Cilia. Não se metam com a minha família. Não sejam covardes! (...) Seu único crime é ser minha esposa. Como não podem com Maduro, vão contra Cilia. E tampouco podem contra Cilia, porque Cilia é uma mulher aguerrida", respondeu Maduro de Caracas.
As autoridades americanas também anunciaram ações contra uma rede que apoia um suposto testa de ferro do líder chavista Diosdado Cabello nos Estados Unidos e embargaram um avião particular de 20 milhões de dólares.
Com essas sanções, todos os ativos dessas pessoas em território americano ficam congelados.
O presidente do Equador, Lenín Moreno, pediu, por sua vez, "uma ação continental" pela Venezuela, questionando implicitamente o governo de Maduro por provocar o que descreveu como "a maior diáspora da história" da América.
O presidente Michel Temer destacou a acolhida de "todos" os milhares de venezuelanos que chegaram ao Brasil "em busca de condições dignas de vida".
Segundo a ONU, 1,6 milhão de venezuelanos emigraram desde 2015.
Pelo Twitter, o vice-presidente americano Mike Pence lançou uma advertência a Caracas.
"Há informações da imprensa hoje de que o regime de Maduro mobilizou tropas militares para a fronteira com a Colômbia, um esforço óbvio de intimidação", tuitou Pence.
Na quarta-feira, Argentina, Colômbia, Peru, Chile e Paraguai anunciarão o envio de uma carta à Procuradoria do Tribunal Penal Internacional, na qual pedirão que investiguem crimes contra a humanidade cometidos pelo governo venezuelano.
Em seu discurso, Trump denunciou "a ditadura corrupta" do Irã e disse que seus líderes "semeiam o caos, a morte e a destruição".
Irritando seus aliados europeus, há quatro meses Trump decidiu abandonar o acordo multilateral de 2015 que reduziu significativamente o programa nuclear do Irã em troca de um alívio das sanções.
Um dia depois de a União Europeia anunciar um novo marco legal com a esperança de que suas empresas possam continuar negociando com o Irã e escapar das sanções americanas, Trump pediu a todos os países que isolem Teerã.
"Não podem deixar que o maior patrocinador mundial do terrorismo possua as armas mais perigosas do planeta", assinalou, fazendo alusão ao apoio de Teerã a movimentos militantes islâmicos como Hamas e Hezbollah.
Também na Assembleia Geral, o presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou seu homólogo americano de tentar derrubar o regime de Teerã, congelando a ideia de retomar os diálogos com Washington.
A segurança internacional não pode ser "o brinquedo da política interna americana", afirmou Rohani.
"É irônico que o governo americano sequer tente esconder seu plano para derrubar o mesmo governo que convida a dialogar", assinalou o líder iraniano, acrescentando que, "para que esta conversa aconteça, não há necessidade de posar para a foto, e que as duas partes poderiam ser ouvidas nesta assembleia.
De outra perspectiva, Rohani celebrou o fato de a comunidade internacional não ter seguido os Estados Unidos em sua "saída unilateral ilegal do Plano de Ação Conjunto e Completo", o acordo sobre o programa nuclear do Irã.
"As sanções ilegais unilaterais em si constituem uma forma de terrorismo econômico", disse Rohani.
No mesmo contexto, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou duramente o uso das sanções econômicas "como armas", em um golpe implícito aos Estados Unidos.
"Nenhum de nós pode ficar em silêncio diante do cancelamento arbitrário de acordos comerciais, o prevalecimento do protecionismo e o uso de sanções econômicas como armas", assinalou Erdogan na assembleia.
O presidente turco não acusou diretamente os Estados Unidos, mas assinalou os "países que de maneira persistente estão tentando criar caos".
Mais cedo, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu na mesma assembleia que resolvam a crise do Irã por meio do "diálogo e do multilateralismo".
"O que é que realmente resolverá a situação no Irã e já começou a permitir a sua estabilização?", perguntou Macron. "A lei do mais forte? A pressão de um só? Não!", enfatizou.
Trump atacou fortemente a visão "mundialista" do planeta, compartilhada por muitos países que defendem o multilateralismo na ONU e pela esquerda nos Estados Unidos, e prometeu: "Os Estados Unidos nunca pedirão perdão por proteger seus cidadãos".
Assegurou que o Tribunal Penal Internacional, apoiado pela ONU, "não tem nenhuma jurisdição, nem legitimidade, nem autoridade".
"Nunca entregaremos a soberania dos Estados Unidos para uma burocracia mundial que não foi eleita e nem presta contas. Os Estados Unidos são governado pelos Estados Unidos", afirmou.
Trump provocou risos na habitualmente solene assembleia ao se vangloriar de que seu governo é o melhor da história dos Estados Unidos.