Ahmed Hassan grita de dor quando o médico o coloca cuidadosamente na balança para pesá-lo. Este bebê está esquelético pela fome causada pela guerra no Iêmen.
No hospital Sabaeen de Sanaa, as enfermeiras preparam leite em pó que será dado em seringas às crianças que chegam para tratamento de emergência.
Seus corpos estão tão debilitados que, por vezes, não são capazes de engolir. Nesses casos, as crianças precisam ser alimentadas através de sondas.
"A vida se tornou extremamente difícil (...) mas nós fazemos o que podemos, dadas as circunstâncias", declara Um Tarek, com um bebê de nove meses que recebe tratamento para desnutrição.
"Não somos daqui, alugamos uma casa muito velha por 10.000 rials (cerca de 35 euros, 40 dólares) em Hiziaz" ao sul de Sanaa, disse à AFP.
Ela conta que seu bebê adoeceu porque não tinha condições de comprar leite em pó. A guerra que já dura quatro anos entre o governo e os rebeldes iemenitas huthis levaram o país à beira de uma "fome gigantesca e iminente", de acordo com a ONU, que estima que 14 milhões de pessoas, metade da população, podem ser afetadas pela crise.
O subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, afirmou na segunda-feira que o risco de fome no Iêmen é "mais importante do que qualquer profissional do setor já viu em sua carreira".
No hospital de Sabaeen, o pediatra Sharaf Nashwan diz que algumas famílias nem têm meios para pagar o transporte para chegar ao estabelecimento.
"Seus filhos ficam assim por dias, semanas, sofrendo de desnutrição até que alguém os ajude com um pouco de dinheiro. Neste no momento, temos casos muito sérios", lamenta.
Desde a intervenção, em março de 2015, de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita em apoio ao governo iemenita, a guerra causou, segundo a ONU, cerca de 10.000 mortos (várias ONGs estimam que o saldo é cinco vezes maior), principalmente civis, e provocou a pior crise humanitária do mundo.
A ONU pediu esta semana um "cessar-fogo humanitário" em torno das instalações envolvidas na distribuição de ajuda humanitária, mas nem os rebeldes apoiados pelo Irã nem Riad e seus aliados parecem ter respondido ao apelo.
Os dois lados disputam o controle deste país com vários portos estratégicos e na fronteira com a Arábia Saudita.
Os rebeldes controlam a capital Sanaa e importantes regiões no norte e oeste do país, onde a cidade de Hodeida está localizada. Quase três quartos da ajuda humanitária que entra no Iêmen transita por seu porto.
A coalizão controlada pela Arábia Saudita controla o espaço aéreo no Iêmen e impõe um bloqueio quase total neste porto, bem como no aeroporto da capital.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma queda de 2,6% no crescimento do Iêmen em 2018 e uma inflação de 42%.
Diante dessa situação, o Dr. Nachwan garante que a equipe médica faz todo o possível para salvar as crianças.
"Os casos com os quais estamos lidando aqui no hospital são graves. Às vezes, à beira da morte. Fazemos o nosso trabalho, fazemos todo o possível para ajudá-los", afirma.
"Alguns são salvos, outros morrem", acrescenta.