Em um esforço para salvar um acordo sobre o Brexit condenado ao fracasso, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta segunda-feira (10) o adiamento da votação do acordo de saída da União Europeia e que voltará a negociar com Bruxelas para transmitir aos líderes europeus as preocupações dos deputados.
"O acordo teria sido rejeitado por uma margem significativa, portanto adiaremos a votação marcada para amanhã", disse May na Câmara dos Comuns, apenas um dia antes da data prevista para a votação histórica.
Imediatamente em seguida, a libra esterlina acentuou sua queda, perdendo mais de 1,5% frente ao dólar.
O texto, fruto de 17 meses de difíceis negociações com Bruxelas, colide não apenas com a rejeição da oposição trabalhista, dos centristas liberais democratas e dos separatistas escoceses, mas também com a do DUP norte-irlandês e de uma centena de rebeldes conservadores, sejam eles pró-europeus, ou eurocéticos.
Seu ponto mais controverso é o chamado "backstop", ou "rede de segurança", um mecanismo projetado para impedir a reintegração de uma fronteira dura na ilha da Irlanda que arrisque o Acordo de Paz de 1998 que encerrou 30 anos de um conflito violento.
Os defensores de uma saída rígida da União Europeia temem que esse acordo mantenha o Reino Unido permanentemente ligado às redes europeias, e pressionaram May para pedir uma renegociação durante a cúpula europeia de quinta e sexta-feira em Bruxelas.
O Brexit não estava na agenda dessa reunião, prevista há meses, mas após essa decisão ameaça tomar o centro das atenções.
"Vou ver meus pares de outros países-membros e conversar com eles sobre as preocupações claras expressas por esta câmara", disse May, ao enfatizar novamente o perigo de rejeitar este acordo, que Londres e Bruxelas qualificaram como "o único possível".
"Enquanto não conseguirmos ratificar um acordo, o perigo de um Brexit sem acordo" de consequências catastróficas para a economia britânica aumenta, alertou ela.
"Assim, o governo vai intensificar o trabalho de preparação para esse resultado potencial", acrescentou.
Esta decisão de última hora que apenas 24 horas antes tinha sido descartado por seu ministro para Brexit provocou duras críticas de deputados contra May.
Muito parlamentares chamaram o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, a lançar uma moção da censura para derrubar May, afirmando que iriam apoiá-lo.
Antes do anúncio de May, a União Europeia também tinha sido enfática ao dizer que não vai "renegociar" o acordo de divórcio.
"Temos um acordo sobre a mesa (...) Este acordo é o melhor e o único possível. Não vamos renegociar. Nossa posição não mudou", advertiu nesta segunda-feira a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva.
"O Reino Unido abandonará a UE em 29 de março", garantiu.
A porta-voz também se referiu a uma conversa, no domingo passado, entre o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, sobre a situação atual.
Nesta segunda, porém, o Tribunal de Justiça da UE (TJUE) declarou que Reino Unido pode desistir de modo unilateral em sua decisão de abandonar a UE, mas sob condições.
"Quando um Estado-membro notifica o Conselho Europeu de sua intenção de abandonar a UE, como fez o Reino Unido, este Estado é livre para revogar unilateralmente tal notificação", decidiu o TJUE, que tem sede em Luxemburgo.
O alto tribunal explica, no entanto, que a possibilidade de frear o processo existe enquanto não entrar em vigor o acordo alcançado entre Londres e Bruxelas. O texto será submetido à primeira votação na terça-feira, em seu complexo processo de ratificação.
No caso de ausência de acordo, os juízes consideram que o Reino Unido poderia revogar o processo de saída antes que expirem os dois anos de prazo previstos, ou seja até a data do Brexit em 29 de março, ou de uma eventual extensão do prazo, consideram os juízes.
"A revogação deve ser decidida após um processo democrático em conformidade com as normas constitucionais nacionais e deve ser comunicado por escrito ao Conselho Europeu", explica o TJUE em um comunicado.
Londres rejeitou rapidamente uma eventual desistência. O ministro do Meio Ambiente, Michael Gove, disse à BBC que a decisão do tribunal "não altera o resultado do referendo (de 23 de junho de 2016) nem a clara intenção do governo de sair".
Os magistrados do TJUE responderam a uma dúvida apresentada por um tribunal britânico que deve decidir se o Reino Unido pode recuar no processo do Artigo 50, como defendem políticos escoceses que estão na origem da ação judicial.