Enquanto nos EUA o presidente Donald Trump insiste que o México deve pagar por um muro na fronteira, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, resolveu duplicar o salário mínimo para tentar conter a emigração para o país vizinho.
Mais do que elevar os rendimentos dos trabalhadores, Obrador criou uma zona econômica salarial na fronteira norte mexicana abrangendo os últimos 25 quilômetros antes da linha divisória com os EUA.
Após se reunir com empresários e sindicatos para conseguir o acordo, o presidente anunciou que o aumento do salário mínimo será de 100% nos municípios limítrofes, chegando a 176,72 pesos (US$ 8,7) por dia. O salário mínimo nacional no México atualmente é de 88,36 pesos (US$ 4,3) por dia, mas passará para 102,88 pesos (US$ 5).
Uma das principais questões abordadas por Trump ao renegociar o Acordo de Livre-Comércio EUA-Canadá-México foi o menor salário do México em comparação com o dos outros dois países, o que atrai empresas estrangeiras e cria empregos, mas também encoraja a migração para os EUA.
Uma nova versão do pacto assinado em novembro inclui disposições para reduzir a diferença salarial entre os países, incluindo uma promessa do México de elevar os salários dos trabalhadores do setor automobilístico e reformar as leis trabalhistas que enfraqueceram os sindicatos independentes.
Até agora, os aumentos do salário mínimo no México não influenciaram as demandas salariais em geral, mas o Banco Central alertou no mês passado que a indexação dos salários à inflação poderia levar a uma espiral ascendente de preços.
Benito Berber, economista-chefe para a América Latina do Natixis, banco de investimento francês, disse que a política pode pressionar o Banco Central a elevar as taxas de juros ainda hoje. "Parece que o governo está disposto a aceitar uma inflação mais alta e, talvez, uma inflação mais rígida", disse Berber.
"O Banxico (o Banco Central do México) foi taxativo de que os aumentos salariais acima da produtividade implicariam uma política monetária restritiva", acrescentou Berber.
O projeto de orçamento para 2019, que o governo entregou no sábado ao Congresso, contempla "um pacote de estímulos para os municípios da fronteira norte", explicou a secretária do Trabalho, Luisa María Alcalde.
Os mercados receberam bem o primeiro orçamento de Obrador por se comprometer a manter a disciplina fiscal. Mas a política salarial levantou preocupações sobre seu efeito nos preços e nas taxas de juros.
O presidente mexicano argumentou que o salário mínimo perdeu 70% de seu poder aquisitivo nas últimas três décadas em razão das sucessivas desvalorizações e crises econômicas. Obrador prometeu novos aumentos para acompanhar a inflação. A taxa anual de inflação do México está em aproximadamente 4,7%, acima do objetivo do Banco Central do país, que é de 3%.
O aumento de US$ 0,71 por dia no salário mínimo nacional - o maior em termos porcentuais desde 1996 -, foi anunciado depois de dois aumentos de cerca de 10% no governo anterior.
Os baixos salários de muitos mexicanos alimentaram a frustração que levou à eleição com uma margem esmagadora do esquerdista Obrador. Ele se comprometeu a elevar os padrões de vida para reduzir o crime e desestimular a migração para os EUA. (Com agências)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.