A turbulência política que envolve Hong Kong não mostrou sinais de diminuir neste domingo, quando dezenas de milhares de manifestantes marcharam pelas ruas, desafiando a proibição policial de protestar. Pessoas de todas as idades, muitas desmascaradas e algumas carregando crianças, caminharam mais de 3 quilômetros em um distrito comercial, onde lojas geralmente movimentadas foram fechadas. Muitos gritavam: "Cinco demandas! Nem uma a menos!", "Lute pela liberdade!" e "Revolução dos nossos tempos!" Alguns seguravam grandes bandeiras dos EUA e exibiam uma faixa com a inscrição: "Presidente Trump, por favor, libere Hong Kong".
As manifestações se tornaram violentas no fim do dia, quando centenas de manifestantes jogaram tijolos e coquetéis molotov sobre barreiras de plástico e grupos de policiais nos arredores da sede do governo. A polícia usou gás lacrimogêneo e canhão de água para afastar o grupo, além de aplicar jatos de tinta azul para marcar os envolvidos e os tornar identificáveis se fugissem
Este foi o 15º domingo consecutivo de manifestações e ocorreu após um dia de confrontos localizados entre manifestantes e grupos que apoiam o governo em shopping centers da cidade. O número de manifestantes deste domingo evocou marchas realizadas no início deste verão, sugerindo que os esforços governamentais para enfraquecer e dividir o movimento de oposição estão tendo pouco efeito, e a crise continua sendo um desafio para a liderança chinesa.
Em 4 de setembro, o projeto de lei de extradição que havia gerado a agitação popular foi retirado e o governo prometeu iniciar um diálogo. A chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam, pediu à população que não apoie manifestantes que usam táticas violentas. Ela prometeu reprimir duramente os infratores da lei, enquanto a polícia proibiu a manifestação pacífica proposta para este domingo, citando o risco de violência irromper, como aconteceu nos finais de semana anteriores.
A Frente Civil de Direitos Humanos, que havia proposto a manifestação, organizou três marchas anteriores que, segundo estimativas, atraíram pelo menos um milhão de pessoas cada vez. As cinco demandas dos manifestantes incluem um inquérito sobre alegações de brutalidade policial, anistia para manifestantes presos e reformas eleitorais para permitir que os cidadãos locais votem em seus líderes. Apenas uma - a retirada formal do projeto de extradição que permitiria o envio de pessoas à China - foi cumprida.
A agitação social, combinada com a disputa comercial entre EUA e China e a desaceleração do crescimento chinês ameaçam levar a economia de Hong Kong à recessão, alertaram autoridades. Protestos violentos interromperam os serviços aéreos e o transporte rodoviário, prejudicando a imagem da cidade como uma cidade segura e um centro financeiro internacional.
Neste domingo, a autoridade aeroportuária da cidade informou que o volume de passageiros caiu 12,4% em agosto em relação a um ano atrás, principalmente devido a quedas significativas no tráfego de e para a China continental, sudeste da Ásia e Taiwan. O número total de turistas caiu 40% no mês passado em relação ao ano anterior, o pior declínio desde maio de 2003, quando Hong Kong estava enfrentando o vírus mortal SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês).