Centenas de milhares de estudantes participaram nesta sexta-feira (20) de um dia de manifestações em todo planeta, no que foi a maior mobilização da história para conscientizar os adultos sobre a importância de atuar contra a mudança climática.
Os alunos de grandes cidades como Sydney, Manila, Mumbai, Seul e Bruxelas responderam à convocação da jovem ativista sueca Greta Thunberg: não compareceram às aulas hoje e participaram da greve escolar simbólica.
Mais de 300.000 crianças, pais e ativistas protestaram nas principais cidades australianas, o dobro do registrado em uma jornada similar em março. Mais de 5.000 eventos estão programados para acontecer no mundo inteiro.
O objetivo da campanha "Sextas-Feiras pelo Futuro" (Fridays for Future) é mobilizar crianças e adolescentes de todo planeta para que pressionem as pessoas que tomam as decisões, assim como as grandes empresas. Espera-se, assim, a adoção de medidas drásticas para conter o aquecimento global provocado pela ação humana.
Após as manifestações na Europa e nas principais cidades da América Latina, a jornada deve terminar em Nova York, com uma enorme manifestação com mais de um milhão de estudantes de 1.800 escolas.
Os estudantes de Vanuatu, nas Ilhas Salomão, foram os primeiros a sair às ruas.
Em Tóquio, quase 3.000 pessoas protestaram de maneira pacífica. "O que nós queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora!", gritaram os participantes.
Na Indonésia, milhares de pessoas aderiram à convocação. O país é palco de incêndios florestais, que provocaram uma grande nuvem de fumaça tóxica nos últimos dias.
Na África do Sul, 500 pessoas protestaram em Johannesburgo.
Na Europa, 15.000 pessoas compareceram a uma manifestação em Bruxelas, enquanto na Alemanha, onde os ecologistas têm um forte peso eleitoral, ativistas bloquearam o trânsito no centro de Frankfurt. Em Berlim, o principal evento começou no emblemático Portão de Brandeburgo.
Em Paris, Jeannette, de 12 anos, estava acompanhada do pai, Fabrice. "É meu aniversário e pedi para vir. A situação me deixa triste. Estamos em apuros e estamos fazendo tudo errado", disse.
Na quinta-feira, Greta – uma adolescente sueca de 16 anos que se tornou um símbolo da frustração de uma geração com o tratamento dado à questão climática – insistiu em que há soluções que estão sendo "ignoradas" e pediu aos jovens que tomem a iniciativa.
"Tudo conta, o que você faz conta", afirmou, em uma mensagem de vídeo.
As manifestações também foram importantes em Nova Délhi, Mumbai e Manila. Algumas autoridades locais, escolas e empresas estimularam a participação. Outras instituições criticaram o movimento, afirmando que as faltas devem ser explicadas. Os jovens não parecem, porém, dispostos a ceder.
"Estamos aqui para enviar uma mensagem às pessoas que estão no poder e mostrar que estamos preocupados, que isto realmente é importante para nós", afirmou Will Connor, de 16 anos, em Sydney.
O debate sobre a mudança climática é diário na Austrália, um dos maiores exportadores de carvão do mundo e com minas que geram empregos e impulsionam a economia.
O país também sofre, contudo, as consequências da mudança climática. Nos últimos anos, registrou secas, incêndios florestais, inundações devastadoras e a perda irremediável da Grande Barreira de Corais.
Conservador, o governo australiano não chegou ao ponto de negar a mudança climática, mas deseja limitar a discussão a uma escolha entre gerar empregos, ou cumprir as metas de emissão de gases causadores do efeito estufa.
"Nos vemos nas ruas!", anunciou a seguradora Future Super, que conseguiu reunir 2.000 empresas na campanha a favor dos protestos.
O CEO da Amazon, Jeff Bezos, comprometeu-se a alcançar a neutralidade de carbono até 2040 e estimulou outras empresas a seguirem o mesmo caminho.
Os protestos desta sexta-feira preparam o caminho para duas semanas de mobilização em Nova York, começando pela Cúpula da Juventude sobre o Clima, que acontece sábado na ONU.
Na próxima segunda-feira (23), o secretário-geral da ONU, António Guterres, preside uma reunião de emergência, na qual pretende solicitar aos líderes mundiais que fortaleçam e ampliem os compromissos adotados em 2015 no Acordo de Paris.
De acordo com as últimas estimativas publicadas pela ONU, para se ter alguma chance de conter o aquecimento global em 1,5ºC acima da temperatura média do século XIX, o mundo teria de zerar as emissões de carbono até 2050.