Personagem central nas últimas eleições disputadas pelo PT, o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci se recusou pelo menos duas vezes a participar das campanhas deste ano do partido. Para evitar o assédio dos correligionários, Palocci chegou a viajar ao exterior durante a disputa eleitoral. Segundo um dirigente petista, Palocci está tentando “se reinventar”.
No ano passado, quando o PT começava a se preparar para as eleições presidenciais e nos principais Estados, Palocci foi procurado pela direção do partido e por emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, ele deixou claro que não tinha disposição de assumir compromissos de campanha.
O ex-todo poderoso ministro da Casa Civil no primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff alegou que a sua segunda queda, em 2011, foi muito dolorosa para a família, mas admitiu que poderia prestar contribuições pontuais, desde que não estivessem relacionadas à captação de recursos para campanha.
Ele participou de pelo menos duas reuniões ampliadas do Instituto Lula, embora não seja associado à instituição, e às vezes conversa com o ex-presidente e integrantes da cúpula petista sobre política. Nestas conversas, Palocci ajuda a formular estratégias políticas, aponta erros e alternativas, mas evita participar do cotidiano do partido.
Padilha - Em meados deste ano, no entanto, diante das dificuldades de arrecadação enfrentadas pelo do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, integrantes do comando da campanha petista voltaram a procurar Palocci.
Até a segunda prestação de contas da campanha, no início de setembro, Padilha havia arrecadado R$ 4,1 milhões, que correspondem a apenas 11% dos R$ 35 milhões em contratos firmados por sua campanha. Em terceiro lugar nas pesquisas e com poucas chances de chegar ao segundo turno, o candidato do PT em São Paulo enfrenta dificuldades de arrecadação.
Os dois se conheceram ainda antes da chegada de Lula ao poder, em 2002, mas se aproximaram durante a campanha que elegeu a presidente Dilma Rousseff, em 2010. De acordo com pessoas próximas a Padilha, ele e Palocci se encontraram pelo menos dez vezes no ano passado. A campanha do PT em São Paulo nega oficialmente que o candidato tenha procurado o ex-ministro para pedir ajuda na arrecadação de recursos.
Pessoas próximas aos dois, no entanto, dizem que emissários do candidato, com dificuldades para abrir portas em setores do mercado financeiro, se encontraram com Palocci.
Segundo relatos, o ex-ministro da Casa Civil não se recusou a colaborar mas, dias depois, viajou para a Itália, alegando que precisava fazer uma pesquisa sobre possíveis cursos na Europa. Ele voltou ainda antes do início formal da campanha, em julho, mas tornou a viajar.
Estudos no exterior - Palocci deixou a Casa Civil em meio a suspeitas sobre as atividades da Projeto, sua empresa de consultoria e a compra de um apartamento de luxo em São Paulo. Desde então, o ex-ministro tem dividido seu tempo entre o trabalho na Projeto e viagens de estudo no exterior. No ano passado, ele foi para a China, onde passou mais de 40 dias. O resultado é um texto de 20 páginas sobre o país asiático.
Antes de deixar a Casa Civil, Palocci já havia sido obrigado a se afastar do ministério da Fazenda, durante o primeiro governo Lula, sob acusação de ter mandado quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que trabalhava em uma mansão usada pelo ex-ministro em Brasília.
Em 2009 o Supremo Tribunal Federal decidiu por 5 votos a 4 rejeitar o pedido do Ministério Público Federal para abertura de processo contra Palocci pela quebra do sigilo do caseiro.