Flavio Dino derrota grupo de Sarney e vence no MA

ele obteve 1,82 milhão, um total de 63,54% dos válidos, derrotando Edson Lobão Filho, do PMDB, candidato do grupo do senador José Sarney
da Agência Estado
Publicado em 05/10/2014 às 21:35



Flávio Dino, um ex-juiz federal de 46 anos, do PCdoB, venceu neste domingo (5), em primeiro turno, a disputa pelo governo do Maranhão. Com 97,17% dos votos apurados, ele obteve 1,82 milhão, um total de 63,54% dos válidos, derrotando Edson Lobão Filho, do PMDB, candidato do grupo do senador José Sarney, que recebeu 966, 5 mil votos, porcentual de 33,64%.

Ao longo da campanha de uma coligação que incluiu o PSDB e outros oito partidos de diferentes correntes ideológicas e o apoio não oficial da militância petista da capital São Luís, Dino adotou a estratégia de atacar a "oligarquia" para neutralizar a máquina eleitoral do grupo adversário, que o acusou de querer instalar uma "ditadura comunista" no Palácio dos Leões.

Uma ampla rede de emissoras de rádio e televisão do clã Sarney e seus aliados ainda fez ataques pessoais e divulgou denúncias falsas contra Dino feitas até por presidiários. O candidato do PCdoB usou a prática e os jargões de sua experiência de 15 anos na Justiça Federal para questionar os peemedebistas e rebater a estratégia, fora de contexto histórico, do grupo adversário de que o governo do Estado estaria nas mãos do "movimento comunista internacional". "A marca do meu governo será restituir a cultura do direito e da legalidade no Maranhão", disse.

Numa entrevista de Dino à TV Mirante, da família do senador, um apresentador leu trechos do estatuto do PCdoB e perguntou se Dino governaria sob as ordens do comitê central do partido. "Um governador não atua para pequenos grupos, partidos ou famílias", contra-atacou o candidato, numa referência ao clã adversário. A uma pergunta se implantaria a "ditadura", o candidato disse que não cabe a um governador mudar a Constituição Federal.

O primeiro governador comunista eleito no País é filiado a um partido que voltou à legalidade em 1986, justamente por uma decisão de Sarney, então presidente da República. "É bom frisar que isto era um compromisso de Tancredo Neves", observou Dino ontem ao Estado, enquanto esperava para votar numa escola da capital. "Vamos superar a grande noite oligárquica, do coronel", disse. A propósito, os comunistas só ocuparam o poder num Estado em 1935, no Rio Grande do Norte, quando uma insurreição destituiu o governador Rafael Fernandes e uma junta do PCB governou por 80 horas.

Militante do PT antes de exercer a magistratura, Dino procurou o PCdoB em 2006 para disputar uma cadeira na Câmara. Ele foi eleito com 120 mil votos, o que o credenciou para concorrer sem sucesso em 2008 à prefeitura de São Luís e 2010 ao governo do Estado. Dino temia que o PT nacional o sacrificasse, em algum momento, para satisfazer a "oligarquia".

O governador eleito sempre teve boas relações com lideranças do PSDB e do PT. Na Câmara, tornou-se amigo pessoal do deputado petista e agora ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Dino chegou a ser sondado pelo grupo Sarney para uma possível união. O pai de Dino, Salvio, foi deputado estadual cassado pela ditadura em 1968, mas que participou de governos controlados pelo senador, e manteve até recentemente uma coluna no jornal da família Sarney, O Estado do Maranhão.

O PCdoB maranhense é considerado o setor mais "original" de um partido que, no âmbito nacional, é liderado atualmente por membros da antiga Ação Popular, um grupo de esquerda do tempo da ditadura ligado a católicos. A AP passou a ter influência no diretório central com a morte dos comunistas que fundaram em o partido, em 1966, após um racha no PCB. No Maranhão, a sigla abriga comunistas históricos, especialmente no Sul do Estado, que deram apoio logístico à guerrilha do Araguaia, movimento armado de combate à ditadura no Sul do Pará, nos anos 1970.

Antes da abertura das urnas, a governadora Roseana Sarney admitiu, ainda pela manhã, a derrota do "grupo" para Dino. "Agora, a oligarquia vai sair de pauta", disse, em tom irônico, numa entrevista. Com domicílio eleitoral no Amapá, desde que deixou o Planalto em 1990, José Sarney passou todo o dia em Macapá.

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