A pressão em favor do PT que o governador Paulo Câmara (PSB) tem feito dentro do PSB pode ter o objetivo secundário de forçar o partido a liberar os diretórios estaduais para apoiar o presidenciável de sua preferência. Para três membros do diretório nacional ouvidos pelo JC, é consenso interno que não há possibilidade de o partido embarcar na nebulosa candidatura do ex-presidente Lula (PT), condenado a 12 anos de prisão pela Lava Jato. Já a neutralidade ajuda o PT nacionalmente porque enfraquece a candidatura do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), concorrente do PT no campo da centro-esquerda.
“Não sei a decisão que meu partido vai tomar. Respeito decisões partidárias. Tenho história no meu partido. Mas de uma coisa tenho certeza, não voto para presidente em Lula nem num candidato do PT”, publicou ontem no Twitter o deputado federal Felipe Carreras (PSB); expondo que há resistências ao PT inclusive dentro do diretório de Pernambuco.
A publicação veio no eco da forte reação contra o PT de nomes como o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda. Aliados do governador negam o isolamento afirmando que PSB e PT têm proximidade na Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Acre e Amapá. Os petistas, porém, não são aceitos em Estados nevrálgicos como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e no Distrito Federal.
Há dois dias, o governador Paulo Câmara disse que a posição em favor de Lula levava vantagem na disputa interna porque o diretório de Pernambuco era o mais forte da legenda. Mas ele tem apenas 91 dos 601 delegados com direito a voto na convenção nacional do dia 5 de outubro, o equivalente a pouco mais de 15% dos votantes.
“Estamos como biruta (de aeroporto) rodando, isso é muito ruim. Com todo respeito a Paulo Câmara, sabemos que Lula está inelegível. Ficar nessa situação a menos de um mês para a definição de alianças é o pior dos cenários”, afirmou o deputado federal Julio Delgado, vice-líder do PSB na Câmara, em entrevista à Rádio Eldorado ontem.
Na Bahia, onde encerrou a rodada pelo Nordeste para articular os palanques regionais, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, cobrou uma “coligação formal” do PSB em troca dos entendimentos locais. “Nós queremos que eles estejam na chapa, estejam junto na chapa com o presidente Lula. (O desejo do PT) não é que eles liberem os Estados”, pressionou a petista.
Na avaliação do cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, o PT se beneficia mesmo que não firme uma coligação com o PSB. “Se ele conseguir impedir o apoio do PSB a Ciro, ele já fez um bom serviço para o PT a nível nacional. Porque o problema do PT é que o PSB não caia nos braços do Ciro. Isso daria ao Ciro mais tempo de televisão e mais cara de centro-esquerda, rivalizando com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (opção de plano B petista). E o PT quer manter a hegemonia no campo da centro-esquerda”, explica.
Para Ismael, Paulo deve estar fazendo o cálculo de que, se for reeleito, vai manter a influência no PSB, mesmo que agora, com a subida de tom, ele perca um pouco de espaço dentro do partido. “Nessa altura do campeonato, ele aposta na neutralidade, fecha acordo com o PT de Pernambuco e mata a candidatura de Marília Arraes”, argumenta.