Efeito Bolsonaro faz Bolsa subir e dólar cair a R$ 3,93

Analistas percebem o aumento expressivo de rejeição do candidato Haddad de 11 pontos, para 38%
Estadão Conteúdo
Publicado em 03/10/2018 às 7:57
Analistas percebem o aumento expressivo de rejeição do candidato Haddad de 11 pontos, para 38% Foto: Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados


O avanço do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e a estagnação de Fernando Haddad (PT) na pesquisa Ibope/Estado/TV Globo fizeram a Bolsa subir 3,80%, na terça-feira (2) e superar os 81,6 mil pontos, o maior nível desde maio. O dólar recuou 2,47%, a R$ 3,93 - a cotação mais baixa em um mês e meio e maior queda em quase quatro meses. O entusiasmo do mercado local, no entanto, não é o mesmo dos investidores estrangeiros, que veem a vitória do candidato do PSL com preocupação.

[ ]"A euforia do mercado se deu porque o resultado da pesquisa foi surpreendente, uma vez que, nos últimos dias, Haddad vinha crescendo e Bolsonaro sofria ataques de todos os lados. Achava-se que ele havia atingido seu máximo nas pesquisas, mas não", diz Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimentos. Também contribuiu a notícia de que Bolsonaro recebeu o apoio da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA).

O candidato do PSL se tornou o preferido dos investidores brasileiros por ter mais chances de derrotar o PT nas urnas - partido que, na visão do mercado, retomaria o papel mais intervencionista do Estado e poderia comprometer a agenda de reformas.

Na terça-feira, as estatais puxaram a alta da Bolsa. Eletrobrás e Banco do Brasil subiram mais de 10%. "A alta das estatais está diretamente relacionada ao fato de Bolsonaro ter se comprometido a manter a agenda de privatizações, além de outros fatores importantes, como a reforma da Previdência", diz Candido.

Para analistas, o que mais surpreendeu não foi o avanço de Bolsonaro, mas sim o aumento expressivo da rejeição de Haddad, que subiu 11 pontos, para 38%, enquanto a aversão ao candidato do PSL se manteve estável em 44%. "Há uma preocupação muito grande do mercado com a agenda de candidatos de esquerda em relação à questão fiscal e ao tamanho do Estado", diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.

O resultado da pesquisa do Ibope, divulgada na segunda-feira (1) foi reforçado, na terça-feira, pelo Datafolha, em que Bolsonaro apareceu com 32%, e Haddad, com 21%. O EWZ, principal ETF (fundo que replica um índice) do Brasil negociado no mercado americano, subiu 5,64% no pregão regular e mais 4,47% depois do fechamento

Exterior

Na contramão do otimismo doméstico, o mercado externo reforça o receio com a ascensão de Bolsonaro. Depois da revista The Economist e do jornal Financial Times, na terça-feira foi a vez de a agência de classificação Standard and Poor's (S&P) alertar para o riscos de uma vitória do candidato do PSL.

"O Brasil tem enormes problemas, tanto fiscais quanto sociais. A economia mal está crescendo este ano e há muito na agenda para a nova liderança. Essa é nossa preocupação no futuro, de quão rápida e efetivamente a nova liderança vai lidar com essas questões" disse o diretor e analista de ratings soberanos para América Latina da S&P, Joydeep Mukherji. "O candidato do PT não é outsider, mas Bolsonaro é - e isso aumenta o risco de incoerências ou atrasos em fazer as coisas após a eleição, em lidar com o Congresso", afirmou. Para ele, a incerteza sobre os rumos da política na região podem afetar o investimento privado na América Latina.

Na mesma linha, em recente relatório, a gestora americana BlackRock, a maior do mundo, ressalta que o apoio dos eleitores da América Latina a agendas populistas pode reverter a tendência de governos pró-mercado e assustar investidores estrangeiros. O texto diz que uma vitória de Bolsonaro pode ser um "gatilho de agravamento", assim como se o governo mexicano congelar preços de combustíveis ou o argentino decidir reverter a agenda de reformas.

Declarações recentes de Jair Bolsonaro de que ele só aceitaria o resultado da eleição se fosse o vencedor trouxeram preocupações sobre "tendências autoritárias", destaca a Ashmore. Em relatório, a gestora menciona que Haddad é de uma ala mais moderada do PT. "Esperamos uma crucial reforma da Previdência independentemente de quem for o vencedor."

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