Coordenador do programa econômico de Jair Bolsonaro (PSL) e fiador de seu programa liberal, o economista Paulo Guedes ventilou para colaboradores da campanha e empresários entusiastas da candidatura do capitão reformado a ideia de criar um conselho econômico aos moldes do que existe nos Estados Unidos. No governo americano, o Conselho Nacional Econômico (The National Economic Council, em inglês) tem como função definir a política econômica e assessorar o presidente em temas sobre economia.
Guedes foi anunciado novamente por Bolsonaro como seu nome para a Fazenda nessa quinta-feira (11). A proposta do economista, no entanto, tem causado confusão nos bastidores. Alguns aliados interpretaram a menção à formação de um conselho desse tipo como indicação de que Guedes acabaria declinando do posto de chefe da Economia de Bolsonaro para assumir o papel de "superassessor", dando as diretrizes liberais do novo governo para um gestor executar. Oficialmente, ele nega a intenção.
Duas fontes da campanha confirmam que a ideia foi exposta por Guedes em reuniões, mas asseguram que ele mantém intenção de se tornar o ministro da Economia de um eventual governo Bolsonaro. Questionado pela reportagem, Guedes afirmou que falar sobre esse tema é iniciativa de "quem quer tomar o seu lugar".
Para Bolsonaro e seu núcleo duro, a figura de Guedes é crucial para dar credibilidade aos intentos liberais do presidenciável. Um aliado de Bolsonaro, que esteve em reuniões com Guedes, diz ter conhecimento da ideia, mas que ela não avançou para uma proposta formal.
Outra fonte da equipe diz que a formação de um conselho chegou a ser mencionada em reunião com integrantes da equipe econômica de Michel Temer, mas no contexto de um elogio ao time do governo. A intenção de Guedes, explicou essa fonte que pediu para não ser identificada, era sinalizar que nomes do atual Ministério da Fazenda teriam espaço na equipe do Bolsonaro caso assim quisessem.
Guedes gosta do trabalho do ministro Eduardo Guardia, do secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, e da secretária executiva do Tesouro, Ana Paula Vescovi. Por isso, diz o aliado, ele brincou em uma reunião que, se esse grupo permanecesse, "ele nem precisaria assumir" e poderia ficar apenas como conselheiro econômico de Bolsonaro.
As conversas sobre a formação desse conselho econômico, contudo, reverberaram rapidamente entre apoiadores da campanha no mercado financeiro e no setor empresarial, que iniciaram de forma informal debates sobre nomes que poderiam ocupar o papel de "gestor da Fazenda" e seguir as determinações de Guedes.
A interlocutores, o economista tem reforçado nos últimos dias que está decidido a tocar a equipe econômica de Bolsonaro caso ele seja eleito. Guedes, que é sócio da Bozano Investimentos, dedica-se há meses a moldar o que seria o plano liberal de um eventual governo do PSL. Mas, em entrevistas, vinha resistindo em confirmar que estaria de fato na Esplanada dos Ministérios de Bolsonaro, alimentando a desconfiança de agentes de mercado.
À revista Piauí de setembro, numa de suas últimas entrevistas antes do primeiro turno, Guedes afirmou: "Se não der para fazer o negócio bem feito, que valha a pena, para quê eu vou?". Pressionado sobre se desistiria, disse à publicação: "Esse prazer eu não dou. Só depois que ele for eleito". O movimento de Bolsonaro de reafirmar o nome de Guedes ao público ontem foi na direção de tentar dirimir essas dúvidas entre investidores e de eleitores que buscam um projeto liberal.
Criado pelo ex-presidente democrata Bill Clinton, o Conselho Nacional Econômico foi mantido ao longo dos anos e é subordinado à Casa Branca. Ele tem como função definir os rumos da política econômica e garantir que os órgãos da administração estejam implementando-a corretamente.
O diretor do conselho não precisa ser confirmado pelo Senado americano. Ele é apenas indicado pelo presidente. Já o secretário do Tesouro, cargo que seria correspondente ao do ministro da Fazenda no Brasil, precisa passar pelo crivos dos congressistas americanos.
No início do governo Donald Trump, a chegada do ex-presidente do Goldman Sachs Gary Cohn para o conselho ajudou a dar credibilidade à administração do republicano. O executivo acabou deixando o posto no início deste ano após Trump elevar tarifas de importação, intensificando sua guerra comercial e dando feição protecionista à administração republicana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.