O compromisso do presidente da República eleito, Jair Bolsonaro (PSL), com o Nordeste deve estar em duas grandes áreas: melhorar a infraestrutura e capacitar os jovens para a nova era do conhecimento. Dentro do primeiro item está o desafio de finalizar projetos que se arrastam há mais de uma década, como a Ferrovia Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco. “Elas beneficiariam vários Estados do Nordeste. Está na hora do governo federal descartar esse parceiro privado da Transnordestina e fazer uma nova concessão para explorar o empreendimento. Vai fazer bem à economia do Nordeste diminuir a dependência das rodovias”, explica o economista e sócio-diretor da Consultoria Ceplan Jorge Jatobá.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, Ricardo Essinger, também considera “urgente” a conclusão das duas obras para a região. O empresário também defende a cassação da concessão da empresa à frente da ferrovia, a Transnordestina Logística S.A. (TLSA), subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que faz parte do grupo do empresário Benjamin Steinbruch.
A implantação da ferrovia fomentaria o surgimento de novos polos econômicos, além de alavancar setores existentes, como a avicultura, no Agreste do Estado, e o gesso, no Sertão do Araripe. “A continuidade da Transnordestina traria um impacto estruturante na formação do mercado consumidor da região, ligando o Agreste de Pernambuco ao Cariri do Ceará e da Paraíba – incluindo Campina Grande – ao Porto de Pecém (no Ceará). Isso colocaria a região num outro padrão de desenvolvimento”, cita o secretário de Desenvolvimento Agrário do Ceará, Assis Diniz.
“O Porto que não tiver uma ferrovia ficará estrangulado por não ter como escoar as suas cargas”, conta o secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco, Marcos Baptista. A Transnordestina vai ligar a cidade de Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém e de Suape.
A transposição e a Transnordestina se encontram em situações distintas. A primeira é composta por dois grandes canais: o Eixo Leste, concluído em março de 2017, e o Eixo Norte, que está com 96% de realização e deve ser entregue até o fim deste ano, segundo o Ministério da Integração Nacional. O próximo problema do projeto é a gestão, ainda não definida pela União.
As obras da ferrovia estão paradas desde 2016. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) instaurou, em julho deste ano, um processo administrativo para apurar os descumprimentos contratuais de implantação da obra. A iniciativa pode levar a empresa a perder a concessão. O prazo de conclusão desse processo vai até março de 2019. Ou seja, a decisão sobre isso caberá a Bolsonaro.
Ainda na área de infraestrutura, seria necessário requalificar a malha rodoviária do Nordeste e decidir quais os trechos estaduais de rodovias federais poderiam ser exploradas sob concessão. Depois das obras de infraestrutura física, os especialistas sugerem outras ações fundamentais para o desenvolvimento regional. “As forças do mercado não são suficientes para diminuir a desigualdade. A renda per capita do Nordeste é cerca de 50% da do Sudeste. É necessária uma ação do Estado com instrumentos que induzam o desenvolvimento”, comenta Jatobá. Esses instrumentos seriam incentivos fiscais e financiamentos interligados à política que alavancasse os setores econômicos instalados na região.
O Nordeste é a região que menos recebe investimento em ciência e tecnologia per capita, segundo o documento Fisc Nordeste do Tribunal de Contas da União. Em 2014, a região ficou com R$ 27,4, enquanto no Sudeste chegou a R$ 125,3. Também no Nordeste está a menor média de escolaridade: 9,1 anos, enquanto no País é 10 anos. “A ciência, a tecnologia e a inovação são indispensáveis para reduzir as disparidades regionais. São fatores que podem gerar processos virtuosos. Temos que formar gente nessa área que tenha capacidade de produzir, sistematizar e analisar os dados. E melhorar a infraestrutura de banda larga é essencial nesse novo cenário. Cada vez mais, o conhecimento é fundamental para o desenvolvimento econômico e social”, resume a professora do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco Ana Cristina Fernandes. Para ela, essa formação deve se concentrar nos jovens.
Pernambuco depende de recursos da União para resolver o grande problema da oferta de água no Agreste do Estado. Para isso, é necessária a conclusão da primeira fase da Adutora do Agreste – em construção desde 2013 –, e o recém iniciado Ramal do Agreste cujas obras foram iniciadas em abril deste ano. Para concluir a primeira, serão necessários cerca de R$ 330 milhões. Para o segundo projeto é necessário um investimento superior a R$ 1,1 bilhão, sendo que, até agora, foram empregados R$ 86,1 milhões. Ambos são bancados com recursos da União e vão fazer a água do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco chegar ao Agreste.
A Adutora do Agreste deveria ter sido concluída em 2015, o que não ocorreu devido à falta de repasses do governo federal à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), que executa a obra. Tanto o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) como o do presidente Michel Temer (MDB) atrasaram a liberação de recursos para o empreendimento. Neste ano, a primeira verba para a adutora foi anunciada somente no dia 19 de outubro. Não há prazo para a conclusão da obra.
Já o Ramal do Agreste deve ser concluído em abril de 2021, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra. O ramal capta a água no Eixo Leste da transposição, em Sertânia, e levará até Arcoverde, onde começa a primeira etapa da Adutora do Agreste – que vai contemplar 23 cidades. A segunda fase da adutora beneficiará 45 cidades, mas não há prazo definido para o seu início.
Saindo da questão da água e indo para a mobilidade do Grande Recife, o Arco Metropolitano é uma obra considerada “estruturadora” pelo secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco, Marcos Baptista. É uma alça viária entre o Porto de Suape e o Norte, podendo chegar até Paudalho ou Igarassu. Hoje, para fazer esse percurso se enfrenta os congestionamentos da BR-101. O Arco Metropolitano tem um orçamento estimado em R$ 1 bilhão e o governo do Estado deseja que o mesmo seja bancado pela União. Como o projeto não saiu do papel, o Estado planeja construir o miniarco, uma alça de 14,4 km ligando Abreu e Lima a Igarassu com um orçamento estimado em R$ 250 milhões, que deve ser licitado “no próximo governo de Paulo Câmara”, segundo Baptista. A intenção é implantar o miniarco com investimento de uma empresa privada que vai cobrar pedágio dos usuários dessa estrada.
Mas nem tudo são obras. Considerado o motor do desenvolvimento de Pernambuco, o Porto de Suape está com alguns projetos no mesmo estágio que estava em 2013 por um simples motivo: perdeu a autonomia para licitar empreendimentos dentro da sua área, devido à Lei Federal 12.815 de junho de 2013 que transferiu a realização dessas licitações para órgãos federais. É o caso da futura concessão do Terminal de Contêineres (Tecon 2).
“Em 2018, a licitação para o Tecon 2 retomou a etapa que estava em 2013 com o estudo de viabilidade pronto e a audiência pública realizada. Foi o atraso que a falta de autonomia trouxe a Suape”, diz Marcos Baptista.
E acrescenta: “O que esperamos do próximo presidente é uma visão desenvolvimentista que permita a atração de investimentos privados que ajudem o Estado a se desenvolver. Sem um ambiente econômico, jurídico e institucional equilibrado, não vamos conseguir atrair investimentos privados”.