Após seis meses de trabalhos e pelo menos dois adiamentos, a auditoria interna da Petrobras sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, não chegou a qualquer conclusão sobre as irregularidades do negócio. A demora foi criticada por conselheiros da empresa na última reunião do Conselho de Administração, quando o conteúdo da delação do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, foi discutido. Em seu depoimento, Costa revelou operar esquema para pagamento de comissões a partidos e políticos aliados do governo federal.
A delação entrou na pauta do colegiado no último dia 12 a pedido de um conselheiro minoritário, que questionou a atuação da Petrobras frente à cobrança de propina das empresas fornecedoras. Em resposta, segundo fontes, a companhia se limitou a informar que tem colaborado com as investigações oficiais e que segue com as apurações internas.
A investigação sobre Pasadena foi aberta no dia 24 de março. À época, a auditoria foi aberta após a presidente da estatal, Graça Foster, dizer que desconhecia a existência de um comitê de proprietários na refinaria. Segundo a executiva, Paulo Roberto Costa representava a Petrobras no órgão com poderes acima do conselho de administração.
O prazo previsto para conclusão das apurações era de 45 dias, mas a estatal prorrogou a auditoria pelo menos duas vezes - em maio e em junho. Os adiamentos são autorizados pela própria Graça Foster sob a alegação de que era necessário ouvir mais testemunhas. Procurada durante toda a semana, a Petrobras não se pronunciou sobre a demora na conclusão das auditorias.
Em junho, ao justificar um novo adiamento da auditoria, a presidente Graça Foster disse que a estatal "não investiga". "A Petrobras não é polícia. A gente ouve as pessoas, vê os contratos, faz relatórios e tem obrigação de entregar aos órgãos de controle. Pasadena está em curso ainda, é complicado", disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Em maio, conselheiros e direção da empresa já haviam divergido sobre as auditorias. O presidente do conselho, o ministro da Fazenda Guido Mantega, decidiu alterar a composição do Comitê de Auditoria, um órgão auxiliar ao conselho que ajuda no controle interno dos processos e finanças da empresa. Na ocasião, dois conselheiros independentes foram substituídos por integrantes ligados ao governo, como a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Refinarias
Também não há conclusão sobre os contratos das obras do Comperj, no Rio de Janeiro, e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, dois projetos tocados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. As auditorias foram abertas em abril. O ex-diretor confirmou que as empresas contratadas para as obras pagaram comissão de 3% a políticos da base aliada do governo, como PT, PMDB e PP, além de governadores dos estados beneficiados com as obras.
Outras duas comissões, para investigar denúncias envolvendo as empresas SBM Offshore e Ecoglobal. Na primeira, a estatal concluiu as investigações ao avaliar que não havia indícios de irregularidades no caso. A segunda auditoria resultou no cancelamento do contrato de R$ 443 milhões da Ecoglobal com a Petrobras por "violação de boa-fé" em relação à composição acionária da empresa.
A suspeita, levantada durante a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, é que a Ecoglobal tinha vínculo indireto com Paulo Roberto Costa. Após o cancelamento do contrato, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial. Em sua defesa, a Ecoglobal desmentiu a versão da Petrobrás e disse ter informado corretamente sua composição acionária. A empresa também afirmou ter sido usada como 'bode expiatório' pela estatal.