Petrobras adota comunicação ofensiva para blindar imagem

A companhia vem reiteradamente ao mercado que continua investigando em comissões internas possíveis irregularidades em contratos firmados com fornecedores
Carolina Sá Leitão
Publicado em 30/10/2014 às 20:28


Bastaram horas da reeleição da presidente da República, Dilma Rousseff, para a Petrobras mudar de estratégia e passar a adotar uma comunicação ofensiva com objetivo de blindar sua imagem e de se precaver de sanções e processos judiciais decorrentes de investigações de corrupção na estatal. Logo na manhã da segunda-feira (27) a petroleira enviou comunicado ao mercado financeiro enfatizando o seu papel de vítima nos casos de lavagem de dinheiro e organização criminosa denunciados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa à Polícia Federal, na Operação Lava Jato. 

Para comprovar transparência em sua atuação, contratou ainda dois escritórios independentes de advocacia que irão auditar com autonomia as acusações feitas por Costa. Mas apenas nesta quinta-feira (30) três dias após o primeiro anúncio, tornou público os nomes dos escritórios contratados: o brasileiro Trench, Rossi e Watanabe Advogados e o americano Gibson, Dunn & Crutcher. 

A companhia vem reiteradamente ao mercado que continua investigando em comissões internas possíveis irregularidades em contratos firmados com fornecedores para a construção das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro, e nas condições de compra da refinaria texana Pasadena, alvo de processo no Tribunal de Contas da União (TCU). Mas, até agora, nenhum resultado foi divulgado. Os dados foram encaminhados ao Ministério Público e à PF. 

Com a mesma estratégia, a estatal entrou com pedido na Justiça Federal do Paraná para que Costa preste depoimento às suas comissões internas. O ex-diretor cumpre prisão domiciliar após fechar acordo de delação premiada com a PF e o acesso da Petrobrás ao depoimentos depende autorização da Justiça. 

Todas essas medidas servirão para a petroleira ter uma dimensão do rombo que a corrupção causou em seu caixa. Mas também atende às exigências do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da entidade reguladora do mercado financeiro no país, a Securite and Exchange Comission (SEC). A Petrobras é listada na bolsa de valores americana e, desde que Costa começou a depor à Polícia Federal no regime de delação premiada, as duas instituições investigam a estatal brasileira. Foi exatamente para atender à lei anticorrupção americana, que foram contratados os dois escritórios de advocacia. 

Segundo a Lei das Sociedades Anônimas, diretores e conselheiros de empresas participantes do mercado financeiro devem agir com lealdade e diligência em seus negócios. Os executivos têm a obrigação de fiscalizar seus contratos e se posicionarem para esclarecer casos de indícios de irregularidades, lesivos à companhia e aos acionistas. O descumprimento da legislação pode ser punido administrativamente pelos reguladores do mercado de capitais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A auditoria independente pode ser usada para que a empresa apresente uma proposta de acordo para encerrar sem julgamento futuros processos sancionadores que venham a ser abertos pela SEC e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado brasileiro. 

No dia a dia, as medidas de transparência tomadas pela estatal nos últimos dias servem ainda para evitar problemas com outras petroleiras com as quais mantém sociedade em projetos de exploração e produção de petróleo e gás. Executivo de uma petroleira ouvida pelo Estado, que não quis se identificar, contou que, se as denúncias de corrupção se aprofundarem, a matriz no exterior, irá exigir mais ações de governança corporativa por parte da Petrobrás. Além de temer pela evasão de recursos nos projetos, as companhias se preocupam em ver suas imagens contaminadas por episódios de corrupção.

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