O governo federal está atrasando parte dos repasses obrigatórios para Estados e municípios. Nas contas dos governadores, o valor devido chega a R$ 2 bilhões.
São recursos relativos a despesas com salário-educação, pagamento a professores, além de receitas dos royalties do petróleo que deveriam ser transferidas para governadores e prefeitos.
"Deveríamos receber 12 parcelas de transferências neste ano e só recebemos 11. Ao que tudo indica a 12ª parcela ficará para o ano que vem", afirma José Barroso Tostes Neto, secretário de Fazenda do Pará e coordenador do Confaz (conselho que reúne os secretários de Fazenda).
O governo vem enfrentando dificuldades orçamentárias neste ano. A moderação do crescimento econômico afetou a arrecadação de impostos, mas as despesas seguiram em alta. Até outubro, as contas do governo estão deficitárias em R$ 15 bilhões.
Com a restrição, o Tesouro recorreu a manobras para manter dinheiro em caixa e, com isso, tentar cumprir as metas fiscais.
No meio do ano, repasses a bancos que fazem o pagamento de benefícios sociais, como o Bolsa Família, chegaram a ser represados.
Para Tostes, o atraso nos repasses aos Estados é mais uma dessas "pedaladas" --um jargão usado para designar as manobras.
"É uma pedalada. Trata-se de um atraso de dias, mas representa uma grande incerteza nas contas dos Estados."
O secretário afirma que outros repasses também estão atrasados. Ao todo, segundo suas estimativas, o governo federal está "devendo" cerca de R$ 6 bilhões aos governadores. São compensações por isenção de ICMS nas exportações, além da parte dos Estados nos impostos do Refis.
Assim como a União, os Estados também sofrem com a menor arrecadação e alguns correm o risco de não conseguir fechar as contas. "Se esses repasses não chegarem, a maioria [dos Estados] terá dificuldades em fechar seus balanços", disse Tostes.
Reunião
Os secretários de Fazenda se reuniram nesta sexta (5) e acertaram que os governadores defenderão em conjunto que a reforma do ICMS seja feita simultaneamente à criação de fundos (bancados pela União) para desenvolver e compensar Estados que perderem com a mudança.
O secretário de São Paulo, Andrea Calabi, chamou atenção para outro projeto em discussão no Congresso. Proposta da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) prevê baixar o ICMS da banda larga para 10%. Hoje a alíquota é de 25% a 30%. Segundo Calabi, a mudança retira R$ 2,1 bilhões em impostos dos Estados.