O ministro da justiça brasileiro, José Eduardo Cardozo, disse que a sensação de corrupção que reina no país potencializa as críticas ao governo, mas advertiu que não há instituições blindadas contra esse flagelo e que quase todos os partidos estão sendo investigados.
Em entrevista à AFP, o ministro descreveu o complicado cenário atual que vive o Brasil como uma combinação "episódica" da ressaca deixada pela disputada reeleição de Dilma Rousseff em outubro, a necessidade de ajustar a economia e o monumental caso de corrupção na Petrobras, onde são investigadas dezenas de pessoas, inclusive 13 senadores e 22 deputados, a maioria da coalizão do governo.
Três meses depois da posse, a presidente Dilma enfrenta uma precoce queda de popularidade: 13%. Há 20 dias, aproximadamente 1,7 milhão de pessoas protestaram nas ruas contra seu governo, muitas pedindo seu impeachment, enquanto o tesoureiro do PT foi denunciado pelo Ministério Público em março pelo chamado 'Petrolão' por suposta cobrança de suborno para financiamento do partido, fundado pelo ex-presidente Lula.
A crise tirou o fôlego do governo.
José Eduardo Cardozo, um dos afilhados políticos da presidente Dilma que está na linha de frente do Palácio do Planalto, disse que se surpreendeu com essa denúncia, mas reafirmou que as dificuldades para conduzir um país são proporcionais à intensidade de sua vida democrática: "Quanto mais democrático é um Estado, quantos mais mais mecanismos de transparência possui, governar é sempre mais difícil", disse.
Este é um resumo da entrevista realizada na tarde de terça-feira:
- Como o governo lida com o fato de que o partido no poder está sendo investigado por corrupção?
- Se olharmos exatamente o que está sendo investigado, veremos que infelizmente quase todos os partidos políticos que têm presença no cenário político brasileiro têm assuntos que estão sendo investigados. Alguns com maior intensidade, outros com menor intensidade, mas todos estão submetidos à investigação. Investigações que não são juízos finais. Em uma situação dessa natureza, muitas vezes existe projetada uma insatisfação contra o governo pela ampliação do sentimento de corrupção que existe no Brasil (...) É uma situação episódica que alcança todas as forças políticas brasileiras e é uma situação que encontra o Estado brasileiro maduro para enfrentar fenômenos dessa natureza.
- O que aconteceu desde outubro até agora para que o governo perdesse tanta credibilidade?
- As pesquisas de opinião pública são retratos de um momento. Viemos de uma eleição muito difícil, muito disputada e que a presidente Dilma ganhou com uma pequena margem. Isso gerou em alguns um ressentimento, que obviamente encontrou outros fatores que não podem ser ignorados: vivemos um momento de uma situação econômica que exige alguns ajustes internos e sempre que um governo faz ajustes também gera descontentamento (...) Mas tenho a absoluta convicção de que este é um momento e que gradualmente as coisas vão retornar a seu curso natural, e a tendência é que para o final de seu governo a presidente Dilma fará um governo que na minha visão será muito bem avaliado pelos brasileiros.
- A situação atual do país preocupa o senhor?
- Quando se conhece o Estado brasileiro na situação em que se encontra hoje, quando se conhece a presidente Dilma e a firmeza que tem para garantir as instituições e dar liberdade plena para investigar, não há razão para estar preocupado.
- Como avalia a acusação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB, principal aliado do governo, mas que dá sinais de rebeldia e é investigado no caso da Petrobras), de que a corrupção está no Poder Executivo e não no Congresso?
- Cada um que é investigado ou não pode ter sua opinião a respeito. Existirão opiniões muito diferentes sobre esta questão e todas têm que ser respeitadas, mas o que importa é ver os fatos (...) Há pessoas vinculadas ao Executivo que estão sendo investigadas e há pessoas vinculadas ao Legislativo que também estão sendo investigadas. As instituições do Estado lamentavelmente não são impermeáveis à corrupção. O fenômeno da corrupção está ocorrendo em vários países. Não existem instituições herméticas, tanto os poderes do Estado como outros organismos públicos ou privados estão submetidos a esse mesmo fenômeno.
- Como acredita que vai terminar o caso da Petrobras?
- Cumprindo-se a lei.