Acre aguarda liberação de verba para enviar 1,7 mil haitianos a SP e Sul do país

Estima-se que 920 haitianos cheguem em São Paulo e 800 desembarquem no Sul
Da ABr
Publicado em 22/06/2015 às 16:18
Estima-se que 920 haitianos cheguem em São Paulo e 800 desembarquem no Sul Foto: Foto: Laura Daudén/ Conectas.org


O estado do Acre planeja transferir centenas de haitianos à capital paulista e ao Sul do Brasil nos próximos dois meses. Um convênio de cerca R$ 2 milhões com o governo federal prevê o custeio para 43 ônibus fretados, que transportarão os haitianos.

De acordo com a prefeitura de São Paulo, 23 ônibus vão seguir para a capital paulista e 20 ônibus terão como destino os estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Estima-se que 920 haitianos cheguem em São Paulo e 800 desembarquem no Sul.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário Nacional de Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados, Beto Vasconcelos, explicou que o deslocamento de haitianos ocorrerá de maneira programada. “Ajustamos que vai ser um fluxo alternado entre os estados, e que será previamente acordado quando for deslocado algum ônibus. Isso deve ocorrer de uma maneira muito sustentável, muito programada entre todas as partes”, declarou.

Nilson Mourão, secretário de Direitos Humanos do Acre, confirmou que o estado emitirá esse aviso. Porém, de acordo com ele, o repasse de verba para a contratação do transporte ainda não ocorreu e, por isso, não há previsão para o início da transferência. Segundo o secretário, diariamente, entre 30 e 50 haitianos compram suas passagens com recursos próprios, e deixam a capital acreana em direção a São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O padre Paolo Parisi, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, é referência em São Paulo na recepção de haitianos. Segundo ele, de oito a nove haitianos chegam diariamente do Acre na sua igreja. “Ontem, chegaram 15 haitianos e sábado, também chegou um novo grupo. Eles continuam chegando, mas com os próprios meios. Conversei com esses imigrantes, eles pagaram do próprio bolso”, disse ele.

Na rodoviária da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, existem três empresas atuando no trajeto até o Acre. A reportagem da Agência Brasil conversou com funcionários das linhas, que confirmaram que a chegada de grupos de haitianos na capital paulista é recorrente. A maioria desses imigrantes chega desorientada, sem falar o idioma ou ter dinheiro sequer para se alimentar.

O padre Paolo Parisi disse que o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) planeja levar representantes à rodoviária para auxiliar na recepção dos haitianos, orientando para qual abrigo da cidade eles devem ser encaminhados. A prefeitura de São Paulo também informou que funcionários, fluentes em francês e creole ficarão no terminal à disposição dos imigrantes para orientá-los.

Segundo o padre, para atender à demanda de haitianos, dois novos abrigos também serão inaugurados. Nesta terça-feira (22), abre um abrigo emergencial, imóvel da própria igreja, a dois quarteirões do metrô Armênia, com capacidade para 50 pessoas. Outro abrigo com 150 vagas vai funcionar no Pari, região central da capital.

A entrada de haitianos no Brasil cresceu a partir de 2010. Segundo o padre Paolo, desde então 10 mil haitianos chegaram ao país. Apenas no ano passado, foram 4,68 mil haitianos e, neste ano, a paróquia recebeu 1,4 mil. Esses imigrantes, normalmente, permanecem em abrigos de dois a três meses, tempo médio para conseguirem um emprego.

O padre Paolo destacou que há 110 anos, 10% da população brasileira era composta por imigrantes. Atualmente, esse percentual caiu para 1%. “Baixou muito, e muitas vezes temos a impressão de que o volume seja enorme, por falta de informação. São números pequenos em comparação com outras realidades do mundo. Então, acho que o Brasil tem toda a condição de dar uma demonstração de boa acolhida diante desses seres humanos que estão chegando”, disse.

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