O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chamou nesta terça-feira (29) de "trapalhada" o suposto apoio do governo para a recriação do Partido Liberal, do ministro Gilberto Kassab (PSD), que serviria para rivalizar com o PMDB. "O governo parece estar de novo concordando com artificialismo de criar novo partido, isso significa que não aprendeu nada com a crise política", disse Cunha.
O presidente da Câmara lembrou que o objetivo de criar partidos para canibalizar a base "está na raiz da atual crise política". "Foi o palco das grandes brigas aqui", afirmou Cunha, destacando que a Câmara reagiu aprovando inclusive uma lei sobre a criação de novos partidos.
Cunha disse ainda que os erros repetidos do governo parecem "filme que eu já vi" e comentou o fato de Kassab ter pedido à presidente Dilma Rousseff que adiasse a publicação da sanção à reforma política aprovada pelo Congresso, o que estava previsto para a última sexta-feira, 25, para tentar fundar seu partido e atrair parlamentares. "Continuam errando igualzinho", reforçou.
Pela legislação atual, parlamentares podem migrar para uma legenda nova nos 30 dias seguintes à criação do partido sem perder o mandato. Já no texto que saiu do Legislativo, a janela partidária só existe no sétimo mês antes da eleição, desde que seja o último ano do mandato daquele parlamentar que deseja fazer a troca. Ou seja, pela nova regra, deputados só poderão mudar de partido em 2018.
Cunha disse desconhecer se Dilma foi a responsável pela estratégia e afirmou que o erro é do governo. "Adiar a sanção por causa disso criou uma nova crise desnecessária, não precisava ter criado. Parece que eles são experts em criar crise ou pelo menos reviver a crise", disse. Questionado se tinha sido o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, emendou: "Não sei quem é o responsável pela trapalhada, mas alguém é. Jabuti não sobe em árvore, se ele subiu é porque alguém botou."
O presidente da Câmara comentou ainda o encontro que teve ontem à noite com Kassab e disse que não polemizou com o ministro sobre o tema. "Ele conhece meu posicionamento", disse. "Foi o PMDB que entrou contra o registro do PL e ele sabe disso."
Registro do PL
O pedido de registro do PL foi entregue ao TSE em março, um dia antes da sanção da lei sobre fusão de partidos. O julgamento do recurso do PL ainda não está previsto na pauta de julgamentos do TSE, mas a expectativa é de que seja analisado na sessão de quarta-feira, 30.
Caso seja criado, o novo partido inicialmente apenas se coligaria com o PSD, primeiro partido criado pelo atual ministro das Cidades. No entanto, a ideia é fundir as duas legendas para rivalizar com o gigante PMDB, maior bancada da Câmara, com 66 deputados. Hoje, o PSD tem 34 representantes na Casa.