A CPI da Petrobras deverá encerrar seus trabalhos no fim desta semana sem ter investido em figuras chave da Operação Lava Jato.
Alguns requerimentos que determinavam, principalmente, convocações e acareações de personagens fundamentais chegaram a ser aprovados pelo colegiado, há pelo menos três meses, mas jamais saíram da gaveta.
É o caso dos depoimentos do empresário Julio Camargo, um dos réus que firmaram acordo de delação premiada em troca de redução da pena, e de dois carregadores de malas do doleiro Alberto Youssef, o ex-policial federal Jayme Alves e Rafael Ângulo.
Camargo foi um dos delatores que empurrou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para o centro do escândalo. Ele afirmou ter pago US$ 5 milhões em propina ao parlamentar.
Tanto Rafael Ângulo como Jayme Alves, conhecido como Careca, também contaram aos investigadores que entregaram dinheiro a políticos.
Entre as propostas de acareação aprovadas pela CPI e que devem morrer no escaninho da comissão está o confrontamento direto entre o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-gerente da estatal Pedro Barusco.
O último assinou a delação premiada. Já Vaccari e Duque negam participação nas ilegalidades descobertas na petroleira.
Boa parte dos nomes deixados de lado pela CPI guardam forte potencial para atingir políticos suspeitos de terem se beneficiado do esquema na estatal.
A estratégia atende à proposta do relator do colegiado, o petista Luiz Sérgio (RJ), que desde o início dos trabalhos avisou que a investigação parlamentar não iria mirar detentores de foro privilegiado.
Ele argumenta que não cabe à CPI apurar eventuais irregularidades cometidas por deputados, mas, sim, ao Conselho de Ética da Câmara, colegiado em que já tramita uma denúncia contra Eduardo Cunha.
O presidente da Casa, inclusive, foi o único político a depor na comissão. Compareceu espontaneamente e, na ocasião, afirmou que não tinha contas no exterior. Na semana passada, vieram a público provas de que ele e sua mulher eram correntistas de um banco na Suíça.
Luiz Sérgio apresentou seu relatório conclusivo na segunda-feira (19). O documento não contém o indiciamento de nenhum parlamentar ou outra autoridade com foro privilegiado.
Embora seja prerrogativa do presidente da CPI elaborar a pauta da comissão -no caso da Petrobras, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), que não foi localizado pela reportagem- Luiz Sérgio saiu em defesa do resultado final da comissão.
"Uma CPI em que foram apresentados mais de mil requerimentos, evidentemente muita gente ficou sem ser ouvida, mesmo sendo a CPI que mais ouviu pessoas", argumentou o relator.
A Comissão, instalada em fevereiro, colheu 132 depoimentos e realizou duas acareações -uma entre Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, em Brasília; a outra, envolvendo Renato Duque, Vaccari e o empresário Augusto Ribeiro Mendonça, no Paraná.
VOTO EM SEPARADO
Alguns parlamentares já anunciaram que apresentarão voto em separado, um espécia de relatório paralelo, com conteúdo distinto do assinado pelo relator.
Ivan Valente (PSOL-SP), um dos mais críticos ao plano de não investigar políticos, diz que vai pedir o indiciamento de parlamentares.
"A CPI não ouviu várias figuras fundamentais, que pegavam os políticos. Vou pedir o indiciamento, pelo menos, de quem já foi denunciado: os deputados Eduardo Cunha e Arthur Lira (PP-AL) e os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Benedito de Lira (PP-AL)", afirmou.
PRAZO
O prazo regimental da CPI se encerra na sexta-feira. Há um requerimento, porém, pedindo a extensão do trabalhos até o início do ano que vem. Caso ela seja aprovado até o fim da semana, a comissão ganha sobrevida.
O relatório oficial pode ser votado nesta quarta-feira. Para isso, no entanto, é necessário que haja sessão deliberativa no Plenário da Câmara de manhã.
O regimento determina a necessidade de duas sessões entre o dia da leitura do relatório, que ocorreu na segunda, e a votação. Nesta terça-feira, houve sessão na Casa.