Lula admite que Dilma mudou discurso e precisa "governar de fato"

A fala foi interpretada por aliados como resposta a setores da oposição que afirmam que Dilma cometeu "estelionato eleitoral"
Da Folhapress
Publicado em 29/10/2015 às 17:40
A fala foi interpretada por aliados como resposta a setores da oposição que afirmam que Dilma cometeu "estelionato eleitoral" Foto: Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Em discurso diante da cúpula do PT nesta quinta-feira (29), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que a presidente Dilma Rousseff venceu as eleições de 2014 com um discurso que precisou ser modificado diante da crise econômica e que agora "precisa governar de fato" o país.

"Tivemos um grande problema político, sobretudo na nossa base, quando tomamos atitude de fazer o ajuste que era necessário fazer. Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e fazer o que dizíamos que não íamos fazer. Isso é fato conhecido pela nossa querida presidente Dilma Rousseff.", afirmou Lula.

A fala foi interpretada por aliados como resposta a setores da oposição que afirmam que Dilma cometeu "estelionato eleitoral" ao não cumprir promessas de campanha, principalmente às que diziam respeito à economia.

Segundo o ex-presidente, é preciso "urgentemente recuperar a potência que Dilma já teve" e "garantir que ela tenha tranquilidade para trabalhar". "Não é justo que Dilma esteja passando o que está passando, por ela, pela história, pelo caráter, por tudo o que ela representa para nós e para esse país. Ao invés de só ficar vendo defeitos, temos que, cada um de nós, virar uma Dilma", disse Lula.

Apesar de defender o ajuste fiscal como "necessário", o ex-presidente disse que o governo precisa "virar a página" para que Dilma "comece a governar de fato esse país", votando medidas enviadas ao Congresso que têm sofrido resistência inclusive da base aliada.

"Se a gente quiser começar a governar esse país de fato, é criar condições para aprovar as medidas que a presidente Dilma mandou para o Congresso, para que ela encerre essa ideia do ajuste", declarou.

Lula reconheceu que o Palácio do Planalto tem tido dificuldade de dialogar com a base aliada no Legislativo e afirmou que "o componente novo" nessa correlação de forças "é a força do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)", que, segundo o ex-presidente, controla um número considerável de deputados "insatisfeitos" com o PT e com o governo. "Nós construímos uma coalizão muito ampla e é com essa gente que temos que governar."

Para Lula, é mais importante a aprovação das medidas do ajuste fiscal no Congresso do que a derrubada de Cunha, acusado de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.

"O que interessa à oposição é discutir qualquer assunto e não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso. Ou alguém acha que outra coisa é importante? Que é derrubar Eduardo Cunha, discutir impeachment e depois votar o que a Dilma mandou para o Congresso?", questionou.

OFENSIVA CONSERVADORA

O ex-presidente repetiu a ideia de que o PT sofre "uma ofensiva de forças conservadoras" e que, por isso, a sigla "não vive seu melhor momento". Assumiu que o PT "fez coisas erradas", mas disse que a sigla é capaz de reagir "como se fosse fênix", "sempre mais forte".

"Não temos direito de permitir que se discuta o impeachment", declarou, pedindo que os petistas "defendam o legado" do governo e do partido.

Segundo Lula, a lógica da oposição é não permitir que Dilma governe. "Não podemos ficar mais seis meses discutindo ajuste, mais seis meses discutindo a CPMF... tudo o que interessa para a oposição é que arrume 500 pretextos para não discutir o que interessa, as medidas que Dilma mandou para o Congresso".

"Sempre trataram de achar que o PT estava fazendo coisas erradas, obviamente já fizemos coisas erradas, mas na hora que a gente soma, nunca nenhum partido conseguiu fazer o que já fizemos em benefício da sociedade brasileira", afirmou.

ECONOMIA

Assim como o tom dado pelo documento que será divulgado pelo diretório nacional do PT nesta quinta, Lula pediu mudanças na política econômica, porém, sem solicitar a troca do ministro Joaquim Levy (Fazenda).

A ordem do ex-presidente foi poupar o ministro, a quem Dilma quer manter no cargo pelo menos até o final deste ano.

"Outra coisa que incomoda é a questão econômica [...] Falam "fora, Levy" como já falaram "fora, Palocci", disse Lula em referência a Antonio Palocci, que foi seu ministro da Fazenda. "Ninguém quer arrumar a economia mais rápido que Dilma. E a única condição de a gente voltar ao prestígio que o PT já teve é recuperando a economia."

Lula ponderou que, quando se está no governo, nem sempre é possível "executar as coisas como gostaria".

Segundo ele, é preciso diminuir a taxa de juros e ampliar o crédito, estimulando o mercado interno.

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