O ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, afirmou nesta terça (29), que o governo federal recebe "com naturalidade" o rompimento do PMDB com a presidente Dilma Rousseff (PT). Ele considerou que a decisão do ex-aliado "chega numa boa hora e oferece a Dilma espaço para repactuação do governo", em negociações com outros partidos da base. Até essa segunda (28), o PMDB comandava sete ministérios.
Wagner afirmou que o governo irá redistribuir os cargos ocupados pelo PMDB para outros partidos aliados e disse que, até sexta-feira, 1º, haverá novidades. "O melhor jeito de buscar votos é ampliar espaço para aliados. Sai um aliado de longa data, mantêm-se outros", disse, lembrando que Dilma já terá reuniões na noite desta terça no Palácio do Alvorada para redesenhar o governo. Ele não soube informar quais ministros do PMDB ficarão no governo.
O ministro, destacado por Dilma como porta-voz para comentar a saída do partido aliado do governo, considerou que "foi bom PMDB ter tomado decisão antes da votação que se aproxima", numa referência ao processo de impeachment contra ela que tramita na Câmara. Ele admitiu que a negociação com os partidos aliados para a repactuação do governo busca barrar uma decisão pela saída de Dilma na Câmara. "Consideramos impeachment como golpe e vamos buscar votos no Congresso".
Wagner admitiu ainda que até mesmo o cargo de ministro da Casa Civil poderia ser negociado com os partidos aliados que ainda não romperam com o governo. No entanto, o ministro alertou que para o cargo está convidado o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, cuja transmissão do cargo e posse ainda dependem da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). "Para o posto da Casa Civil está convidada uma pessoa; o ministro Luiz Inácio Lula da Silva, um conselheiro político. Mas, se o Supremo decidir que não, a Casa Civil pode ser negociada", completou.
Wagner afirmou ainda que a relação entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer está "politicamente interditada" após a saída do PMDB do governo.
Wagner evitou responder se o vice deveria renunciar ao cargo, já que o seu partido não faz mais parte da base aliada, mas disse que, independentemente disso, a presidente terá sempre uma relação "educada" com o peemedebista.
"Sair do governo é decisão pessoal do Temer, vocês deveriam perguntar a ele se ele vai sair", disse o ministro.
O ministro também ironizou a rapidez do encontro da legenda, que durou menos de cinco minutos. "Eu não sei o que o PMDB queria, talvez um título no Guinnes Book", afirmou.
Caso o impeachment de Dilma seja aprovado pelo Congresso, Temer é quem assume o poder. Sem citar o vice, Wagner colocou em xeque a legitimidade de um governo do peemedebista. "Se alguém com 54 milhões de votos já tem dificuldade, alguém que não tem pode ter ainda mais dificuldade."
Wagner também afirmou que impeachment sem causa é um "golpe dissimulado" e que o governo continua trabalhando para tirar o País da crise. Ele citou como exemplo o fato de estar marcado para esta quarta-feira, 30, o lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, que vem sendo adiado desde o ano passado.
O ministro disse ainda que a sociedade continua demonstrando apoio ao governo Dilma e que a presidente deve receber, nos próximos dias, representantes de movimentos contra o impeachment, além de participar de atos com artistas e intelectuais.
O Palácio do Planalto demorou mais de três horas para se manifestar, oficialmente, sobre o desembarque do PMDB do governo Mesmo com a decisão já esperada, auxiliares de Dilma mantiveram o silêncio logo após o partido decidir, no início da tarde, deixar a base aliada.