Fux não comenta impeachment, mas critica 'judicialização da política'

Segundo Fux, há uma crítica universal sobre 'quão deletério' pode ser um sistema de governo baseado em decisões judiciais
Estadão Conteúdo
Publicado em 09/05/2016 às 21:18
Segundo Fux, há uma crítica universal sobre 'quão deletério' pode ser um sistema de governo baseado em decisões judiciais Foto: Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, lamentou a "judicialização da política", nesta segunda-feira (9), após participar de evento na capital gaúcha. Ele não comentou o processo de impeachment, mas criticou o fato de o Judiciário ter que tomar decisões que, na sua avaliação, cabem na verdade ao Legislativo.

"Eu tenho uma crítica severa à judicialização da política. Entendo que o Parlamento tem que resolver os seus próprios problemas. E ele não o faz, evidentemente, para não assumir nenhuma postura social que desagrade o eleitorado. Ele então 'empurra' esta solução para o Judiciário, que é uma delegação espúria na medida em que nós, juízes, não fomos eleitos", disse a jornalistas.

Segundo Fux, há uma crítica universal sobre "quão deletério" pode ser um sistema de governo baseado em decisões judiciais. "A nossa legitimidade democrática é diferente da legitimidade democrática dos parlamentares", falou. O ministro ressaltou que a jurisprudência do Supremo é "extremamente avessa" a interferir nos outros poderes. "Só ocorre a judicialização da política porque o próprio Parlamento não resolve os seus próprios problemas."

O ministro Luiz Fux negou, na sexta-feira passada, um mandado de segurança do governo que pedia a anulação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. A ação tinha como base o mesmo argumento adotado nesta segunda-feira pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), para suspender as sessões de votação na Casa que deram seguimento à denúncia contra a petista.

Na ação, apresentada semana passada, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) questionava o fato de líderes partidários terem orientado os votos das bancadas durante a votação na Câmara. Segundo ele, esta conduta é proibida pela Lei do Impeachment de 1950 e teria "violentado o direito dos parlamentares à liberdade do juízo subjetivo de apreciação".

Na decisão, o ministro Fux destacou que não cabe ao Supremo decidir sobre uma questão interna da Câmara. "Resta claro que o ato praticado pelo impetrado, diante da situação fática descrita pelo impetrante, envolveu a interpretação de dispositivos regimental e legal, restringindo-se a matéria ao âmbito de discussão da Câmara dos Deputados", escreveu o ministro. O despacho de Fux saiu antes da anulação de Maranhão, mas só entrou no andamento do sistema interno do Supremo nesta segunda-feira.

A orientação dos votos por parte dos líderes partidários durante a votação do dia 17 de abril foi um dos motivos apontados por Maranhão para tomar a decisão de suspender o processo de impeachment. Para o presidente interino da Câmara, os deputados deveriam votar "de acordo com as suas convicções pessoais, e livremente".

Nesta segunda-feira, em Porto Alegre, o ministro Fux não quis comentar o caso. Ele esteve na cidade para participar de evento promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) sobre o Novo Código de Processo Civil.

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