Os grandes bancos sentiram de forma mais intensa a crise no País durante o primeiro trimestre à medida que tiveram de gastar mais com calotes e não conseguiram expandir suas carteiras diante da tímida demanda por crédito. Como consequência, o lucro líquido combinado de Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Caixa Econômica Federal encolheu 22,5% de janeiro a março, para R$ 11,8 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 15,2 bilhões.
Pesou, sobretudo, a piora das condições financeiras das grandes empresas que turbinou o volume de renegociações de dívidas no início desse ano e pesou na inadimplência desse segmento. O principal caso foi a Sete Brasil, que sem consenso com a Petrobras, entrou com pedido de recuperação judicial, obrigando os bancos a elevarem o colchão para o crédito bilionário que deram à companhia.
Obrigou, inclusive, o BB, que encerrou a temporada de balanço dos grandes bancos, a revisar parte de seus guidances para 2016. Isso porque no primeiro trimestre teve de reservar uma provisão de mais de R$ 2 bilhões para um "caso pontual" do setor de óleo e gás, cujo nome do cliente não foi revelado. Conforme fontes, o banco elevou a provisão para a Sete Brasil de 10% para 70%, o que pesou no lucro, nas despesas com provisões para devedores e no retorno da instituição.
Apesar disso, o banco descarta eventos deste porte nos próximos meses. "Devemos ter mais casos de renegociações de dívidas de grandes empresas, mas não vemos nenhum outro caso que gere prejuízo para os bancos. Não há nenhum grande caso que não possa ser renegociado até o fim do ano", afirmou o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, José Maurício Pereira Coelho, em coletiva de imprensa, na manhã desta sexta-feira.
O aumento de provisões ocorreu em todos os bancos com exceção do Santander. Pressionados pela Sete Brasil e pelo volume mais de 100% maior dos pedidos de recuperação judicial, segundo a Serasa Experian, os gastos com calotes dos cinco maiores bancos do País saltaram 66,3% no primeiro trimestre em relação aos três meses anteriores num total de R$ 16 bilhões. Em um ano, essas despesas cresceram quase 33%.
Depois de gastar mais de R$ 2 bilhões com inadimplência em apenas um trimestre, o BB revisou o indicador de provisões (PCLD, gastos com provisões para devedores duvidosos acumulados em 12 meses divididos pela carteira de crédito) que deve ficar entre 4,0% e 4,4% neste ano, ante faixa inicial de 3,7% a 4,1%. Já os bancos privados resistiram à pressão do mercado e garantiram que vão cumprir os guidances prometidos nem que seja no piso dos intervalos divulgados.
Sob o ponto de vista do crédito, o único banco que ampliou sua carteira no primeiro trimestre foi a Caixa e ainda assim com leve alta de 0,7%. Os restantes tiveram redução no saldo. A maior retração foi do Santander, cujos empréstimos diminuíram em 5,7%. No comparativo anual, somente o espanhol e o Itaú registraram queda no saldo.
O BB, que revisou para baixo a expectativa para o retorno neste ano, manteve sua projeção para crédito. Sob o ponto de vista macroeconômico e uma eventual recuperação da economia de forma mais rápida, que poderia estimular a demanda por crédito, por conta do novo governo, Coelho afirmou que o BB seguirá acompanhando eventuais alterações no cenário e fará ajustes em seus guidances, se necessário. O BB espera que a sua carteira de crédito ampliada interna cresça de 3% a 6% neste ano. No primeiro trimestre, avançou 4,0%.