O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, descartou qualquer ligação com as empresas da J&F Participações, holding proprietária do grupo JBS. Uma das empresas da holding, a Eldorado Celulose, é alvo da nova fase da Operação Lava Jato.
Segundo o ministro, ao voltar para o governo, se desligou do grupo antes de chegar a Brasília. “Eu fui do conselho de diversas entidades [no passado]. Neste caso, era o conselho consultivo, objeto de consulta. Não tenho mais nada com nenhuma dessas empresas. Em todas [empresas na qual foi ligado] fui convidado e aceitei, mas fiz contratos de encerramento”, disse nesta sexta-feira (1º), em entrevista à Rádio Estadão.
A empresa Eldorado Celulose é um dos alvos da fase da Operação Lava Jato deflagrada nesta sexta. O escritório da companhia, na Marginal Tietê, zona oeste paulistana, está sendo vasculhado por agentes da Polícia Federal. A empresa é controlada pela J&F Participações, holding (empresa que detém a posse majoritária de ações de outras empresas) que é proprietária do grupo JBS, dono da Friboi. Antes de assumir o Ministério da Fazenda, Meirelles presidia o Conselho de Administração da J&F, dona do Banco Original, JBS, Vigor. Também foi membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas.
Meirelles destacou que, ao assumir um cargo público, encerrou todas as ligações com o setor privado “da mesma maneira quando assumiu o Banco Central, em 2003”. Na ocasião, o ministro deixou o BankBoston, instituição na qual trabalhava há 28 anos. Empresa que, destacou, ingressou desde que saiu da faculdade e chegou durante a carreira a ser presidente mundial da instituição. Meirelles afirmou ainda que deixou sem problemas as relações com o Bank Boston, onde tinha vínculos maiores, da mesma forma que deixou outras empresas das quais teve participações.
“Em resumo: um processo normal, rigoroso e feito com todo o cuidado. Com toda a atenção, como eu sempre faço e sempre estando preparado, com dedicação integral, ao setor público e sem nenhum vínculo com o setor privado”, enfatizou.
Sobre a Operação Lava Jato, Henrique Meirelles disse que é um processo absolutamente relevante, saudável e importante para a economia brasileira. “Tenho destacado há muito tempo que o que é forte no Brasil, hoje, são, cada vez mais, as suas instituições. Seja o Judiciário, seja o Legislativo, seja o Ministério Público, seja o Executivo. O que está claro, no Brasil, é a independência das instituições e a imprensa livre. Na minha opinião, isso é que dá força para acreditarmos no futuro do Brasil”, declarou. “Independentemente de questões específicas e de operações específicas. O que vai concluir ou o que não vai concluir. Quem é culpado, que não é. Quem vai ser punido ou não”, acrescentou.
Meirelles disse que, mesmo que haja problemas de curto prazo para companhias específicas, com a operação, o mais importante é que tudo seja esclarecido e, mais do que isso, que as instituições brasileiras saiam fortalecidas. “Se analisarmos a história, vamos ver que aquele país que tem instituição fortes , é aquele país que a longo prazo cresce. Portanto, neste aspecto, acredito na força, no bom funcionamento das instituições brasileiras”, afirmou.
Durante a entrevista, o ministro voltou a defender as mudanças que o governo tem proposto para a economia, como o teto para o limite de gastos da União e da extensão da proposta para os estados, que renegociam suas dívidas com o governo federal. Meirelles destacou mais uma vez a importância de metas fiscais realistas para que as agentes econômicos possam aumentar cada vez mais a confiança, os investimentos e o consumo cresça. Meirelles foi questionado sobre o esforço do governo para equilibrar a economia e as demandas políticas sem afetar as contas públicas.
“O que existe foi, em primeiro lugar, é a fixação realisticamente da meta de resultado primário de 2016. Posteriormente, a emenda ao Congresso Nacional da limitação do crescimento das despesas públicas para os anos seguintes ao máximo da inflação”, disse. De acordo com Meirelles, definida a prioridade e o ponto básico do que é a política econômica, todas as demais negociações “têm que ser sujeitas a esse limites”.