O corretor Lúcio Funaro, que cumpre prisão preventiva há quase um mês, insiste que não tem "o que delatar porque não há o que confessar". Ele, porém, se diz disposto a "colaborar" com as investigações da Operação Lava Jato. "Não significa que não possa e não queira colaborar com as autoridades."
Funaro respondeu, por escrito e por intermédio de seu advogado Daniel Gerber, perguntas enviadas pela reportagem. Nas respostas, desqualifica e ameaça seus acusadores: o ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto e o ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello.
Ele nega ter atuado como operador do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e disse que apenas tem boas relações com o peemedebista.
Funaro chamou Cleto de "criminoso confesso". Insiste que a delação dele, que serviu como base para a sua prisão - na Operação Sépsis, desdobramento da Lava Jato -, é "um escárnio ao poder público". "Ele (Cleto) fez da delação um instrumento de negociação de vantagens ilícitas. Do que ele fala, nada há a se fazer, pois quem tem que provar é ele, e isso ele jamais conseguirá, pois mente a meu respeito."
Cleto disse que Funaro integrava um esquema de propinas para liberação de financiamentos do FI-FGTS a empresas.
Em sua delação, o ex-vice-presidente da Caixa entregou alguns documentos para provar o que diz, entre eles cerca de 300 faturas, demonstrando que Funaro pagava suas contas.
"Fomos - infelizmente - parceiros de negócios por algum tempo. Isso não significa nada, e, se eu realmente tivesse cometido delitos com este delator, ele teria provas disso. O fato de ele usar pagamentos de contas pessoais para tentar legitimar suas afirmativas mostra que eu realmente nunca fiz nada além disso."
Procurada nesta quinta-feira, 28, a defesa de Cleto não respondeu até a conclusão desta reportagem.
Sobre a Hypermarcas, Funaro afirmou que está contratando um escritório de advocacia americano para investigar a empresa e provar que Nelson Mello usou sua delação para acobertar outros envolvidos. "A Hypermarcas iria quebrar se os crimes assumidos por Nelson respingassem em toda a diretoria e presidência. Todos seriam presos pela justiça americana. Por tal motivo, Nelson assume a culpa de tudo, afirma que fez tudo 'sozinho'."
Mello disse na delação ter autorizado pagamentos de mais de R$ 30 milhões para políticos. Procurada, a Hypermarcas reencaminhou comunicado divulgado ao mercado, no qual afirma que contratou uma auditoria interna e verificou não haver evidências de que outros administradores participaram do episódio. "A Companhia ressalta que não é alvo de nenhum procedimento investigativo e que não se beneficiou de quaisquer dos atos praticados pelo ex-executivo."
Funaro foi transferido ontem da carceragem da Polícia Federal em Brasília para o presídio da Papuda. Ele disse que sua frustração é de até agora não ter sido ouvido pelas autoridades para dar sua versão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.