O ministro das Relações Exteriores, José Serra, entregou, na noite desta quarta-feira, ao presidente Michel Temer, pedido de demissão, alegando "problemas de saúde" - decorrente de uma cirurgia na coluna, realizada em dezembro, em São Paulo. Temer ficou surpreso com o pedido e, na conversa, tentou demovê-lo da ideia, mas não obteve sucesso, já que Serra apresentou a ele seus exames recentes e explicou que os médicos exigiram dele quatro meses de tratamento mais dedicado e até uma permanência maior em São Paulo. Com isso, o ex-ministro decidiu deixar o cargo e, conforme informou na carta entregue ao presidente, vai retornar ao Congresso, onde afirma que honrará seu mandato de senador pelo PSDB de São Paulo, "trabalhando pela aprovação de projetos que visem a recuperação da economia, desenvolvimento social e a consolidação democrática do Brasil".
Serra chegou ao Planalto após às 20 horas para se reunir com Temer. Os dois são amigos de muitos anos e conversaram por quase uma hora. O presidente "lamentou muito" a sua saída e tentou convencê-lo a permanecer no cargo, mesmo alternando períodos de tratamento com realização de suas funções de chanceler. José Serra lembrou que já estava evitando as viagens por conta dos impactos na coluna em pousos e decolagens e acentuou que este problema na coluna estava impedindo que ele "mantivesse o ritmo das viagens internacionais, inerentes à função de chanceler, isso sem mencionar as dificuldades para o trabalho do dia a dia", conforme reiterou na carta. Para ele, estas limitações impediam o seu "desempenho satisfatório". O ex-ministro relatou ainda que esperava ter resolvido os maiores problemas na coluna com a cirurgia realizada em dezembro, mas que, diante do seu atual quadro, precisava se dedicar ao tratamento.
Na conversa, Temer agradeceu a colaboração de Serra no Itamaraty, desejou que ele possa se dedicar ao tratamento e que tenha uma breve recuperação. Na carta de demissão, o ex-ministro salientou que solicitava sua exoneração do cargo de Ministro das Relações Exteriores, "com tristeza". O ex-ministro, na carta, disse ainda que foi "motivo de orgulho" integrar a equipe de Temer. A exoneração, a pedido, será publicada no Diário Oficial desta quinta-feira. Marcos Galvão ficará interinamente no cargo. Tomado pela surpresa, o presidente confidenciou a auxiliares que não pensa em tomar uma decisão, de imediato. No momento, Temer tem pressa em resolver quem será o novo ministro da Justiça, cargo que está sendo alvo de disputa dos partidos políticos e até de integrantes dos meios jurídicos.
Certamente o Ministério das Relações Exteriores se tornará um novo palco de disputas políticas pela ocupação do cargo, que estava com o PSDB. Em momento de discussão de temas polêmicos como a reforma da Previdência, Temer quer pensar no assunto com mais calma, durante os dias de descanso que pretende tirar nos feriados de Carnaval. O presidente não decidiu ainda mas está cogitando passar uns dias na base naval de Aratu, na Bahia, descansando com a família.