Amigo do presidente Michel Temer há mais de 30 anos, José Serra chegou ao Ministério das Relações Exteriores como integrante do núcleo estratégico do governo e com a missão de ajudar a reativar a economia, fortalecendo as exportações. Mas, ao deixar a pasta nove meses após haver chegado, a principal marca de sua gestão está no campo político: a ruptura com os países de linha "bolivariana".
Essa mudança se deu antes mesmo da posse. O afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, em maio do ano passado, foi criticado por Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua, pela Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba) e pelo secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper. Em duas notas, o ministério os acusou de "propagar falsidades" e expressar "preconceitos".
Mas a tese de que houve um "golpe" no País repercutiu na mídia internacional. Numa tentativa de estancar esse movimento, o Itamaraty emitiu circular orientando seus diplomatas a rebater as acusações.
Quando o impeachment de Dilma foi aprovado no Senado, em agosto, Venezuela, Equador e Bolívia chamaram de volta seus embaixadores do Brasil, o que, no mundo diplomático, é uma crítica. Em resposta, o governo brasileiro fez o mesmo.
Nenhum desses países ocupou mais as atenções de Serra que a Venezuela. A parte mais visível de sua gestão foram as críticas ao governo de Nicolás Maduro, que ele acusou várias vezes de não respeitar os direitos humanos nem a democracia. E as articulações para evitar que a o país assumisse a presidência do Mercosul.
Nessa empreitada, o Brasil integrou uma aliança com Argentina e Paraguai, mas foi difícil conseguir a concordância do Uruguai. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou, viajando com Serra a Montevidéu para uma conversa com o presidente Tabaré Vázquez. No fim das contas, a Venezuela não assumiu de fato a presidência do bloco e acabou até suspensa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
José Serra entregou, na noite dessa quarta-feira (23), ao presidente Michel Temer, pedido de demissão, alegando "problemas de saúde" - decorrente de uma cirurgia na coluna, realizada em dezembro, em São Paulo. Temer ficou surpreso com o pedido e, na conversa, tentou demovê-lo da ideia, mas não obteve sucesso, já que Serra apresentou a ele seus exames recentes e explicou que os médicos exigiram dele quatro meses de tratamento mais dedicado e até uma permanência maior em São Paulo.
Com isso, o ex-ministro decidiu deixar o cargo e, conforme informou na carta entregue ao presidente, vai retornar ao Congresso, onde afirma que honrará seu mandato de senador pelo PSDB de São Paulo, "trabalhando pela aprovação de projetos que visem a recuperação da economia, desenvolvimento social e a consolidação democrática do Brasil".