A presidente cassada Dilma Rousseff disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) indicou ser o presidente Michel Temer o responsável por desvios de recursos na Caixa Econômica Federal e pelo recebimento de contribuição "não declarada" na campanha presidencial de 2014.
Na interpretação de Dilma, a sugestão do ex-presidente da Câmara está nas perguntas encaminhadas por ele a Temer no final do ano passado. "Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes (ex-assessor da Presidência)? Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha. Explícito. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer?"
Em novembro passado, a defesa de Cunha protocolou 41 perguntas direcionadas a Temer, arrolado pelo deputado cassado como testemunha de defesa em processo que responde na Lava Jato. As perguntas foram vetadas pelo juiz Sérgio Moro. Cunha está preso desde outubro do passado.
O deputado cassado perguntou se Temer indicou o nome de Wellington Moreira Franco, hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, para a Vice-Presidência do Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal , e se tinha conhecimento se na coordenação do Centro-Oeste couberam indicações do vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa e da vice-presidência de Governo do Banco do Brasil. Questionou ainda se o presidente conhece o advogado José Yunes e se ele recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição, seja do PMDB ou do próprio Temer.
Dilma usou palavras como "frágil", "fraco" e "medroso" para se referir ao sucessor. "O Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso."
'Gato angorá'. Na entrevista, a petista ataca também Moreira Franco, referindo-se a ele pelo apelido "gato angorá". Investigadores da Lava Jato atribuíram ao ministro o codinome Angorá na delação da Odebrecht. Dilma afirma que demitiu Moreira Franco da Secretaria de Aviação Civil porque não deixou ele roubar.
"O gato angorá tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: 'Ele não fica. Não fica!'", afirmou ao Valor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.