Partidos reforçam atenção com o Nordeste visando eleição presidencial

PT e PSDB, sobretudo, sabem que Nordeste pode fazer a diferença na disputa pela cadeira de presidente da República
Franco Benites
Publicado em 16/04/2017 às 11:04
PT e PSDB, sobretudo, sabem que Nordeste pode fazer a diferença na disputa pela cadeira de presidente da República Foto: JC Imagem


Antes da chamada delação do fim do mundo consumir a atenção de políticos ligados a partidos diversos e ocupar as manchetes dos jornais, governo e oposição estavam travando uma disputa para quem mais contribuiu para o avanço da Transposição do Rio São Francisco. Essa é apenas uma das batalhas pela atenção do eleitor nordestino já de olho em 2018.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Sudeste concentra o maior número de eleitores (43,34%), mas o Nordeste vem em segundo lugar (26,85%) e não pode ser desprezado.

“O Nordeste pode decidir a eleição como decidiu em 2014 pró-Dilma Rousseff (PT) contra Aécio Neves (PSDB). Se não fosse o Nordeste, Aécio seria o presidente da República”, afirma o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira.

ESPECIAL: DELAÇÃO DO FIM DO MUNDO

A pobreza de boa parte da região e a seca, que atinge o Nordeste há seis anos, contribuem para moldar o discurso dos pré-candidatos à presidência da República.

“No Nordeste, existe o maior percentual de eleitores que dependem de políticas sociais. É um região pobre, com nichos de misérias e isso significa que nenhum candidato pode chegar aqui sem falar no que o Estado pode fazer pelo eleitor e como pode desenvolver políticas sociais, que são características dos governos do PT”, defende o pesquisador.

Em 2002, Lula (PT) venceu José Serra (PSDB) com a contribuição de 25% dos votos dos nordestinos. A implementação de políticas sociais fidelizou o eleitoral nordestino e esse percentual passou para 33% em 2006 e 2010. Em 2014, na reeleição de Dilma, alcançou 37%.

“A votação do PT nos estados nordestinos foi potencialmente incrementada depois dos programas de transferência de renda e assistencialistas do governo Lula”, ressalta o cientista político e professor das faculdades Damas e Estácio, Elton Gomes.

Devido à memória dessas ações, Lula é um candidato forte à presidência se for concorrer em 2018. Só em Pernambuco, como apontou um levantamento do Instituto de Pesquisa Uninassau, ele tem a simpatia de 65% dos eleitores. A intenção de votos chega a 90% no Sertão do São Francisco.

Elton Gomes ressalta que a relação do eleitor nordestino com Lula é de adoração.

“Pesa a favor de Lula o seu imenso carisma político. Mesmo com a sua figura sendo solapada pelos recentes acontecimentos, ele mantém uma mítica própria do messianismo”, diz.

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Elton Gomes, no entanto, cita as dificuldades que o PT pode ter em 2018. “Não está mais com a máquina pública nas mãos e não conta com uma aliança político-partidária que lhe dê capilaridade”, atesta.

Já ao PSDB cabe definir quem será seu candidato - o prefeito João Dória (SP) passou a ser cogitado ao lado do governador Geraldo Alckmin (SP) e do senador Aécio Neves (MG) - e achar um discurso para a região.

“Nenhum candidato pode chegar ao Nordeste falando em liberalismo e empreendedorismo. Para entrar no Nordeste e principalmente nas cidades que não são capitais tem que ter um discurso semelhante ao do PT”, diz Adriano Oliveira.


Para Elton Gomes, uma saída para o PSDB tentar melhorar seu desempenho no Nordeste é recorrer a um político da região. O professor acredita que, no retrato atual, o candidato mais competitivo para concorrer pelos tucanos é João Dória.

"Ele pode tentar compor uma chapa com um vice nordestino como o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM). São nomes aventados nos corredores de Brasília, mas tudo no campo da especulação", lembra.

PASSADO

A supremacia que o PT tem no Nordeste hoje em dia nem sempre existiu. Em 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito e reeleito presidente da República, os petistas não eram tão admirados na região.

"Fernando Henrique foi eleito e teve uma força região muito forte porque era governo. Ele teve o Plano Real à mão, que teve como objetivo combater a inflação. No momento em que se combate a inflação, você gera uma percepção de melhoria de vida porque você passa a consumir mais. Foi o que ocorreu com FHC. Quando o governo FHC é reeleito, tinha o controle da inflação, mas também tinha políticas sociais. No caso de Lula, ele radicalizou na promoção das políticas sociais no Nordeste e também de obras prioritárias como a transposição do rio São Francisco e a Refinaria Abreu e Lima e isso fez com que Lula criasse a identidade de que fosse o melhor presidente da história do Nordeste", destaca Adriano Oliveira.

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