MPF abre investigação contra empresário amigo de Aécio

Alexandre Acciolly foi apontado como operador de uma conta em Cingapura, que serviria para depósitos de propina para o senador
JC Online
Publicado em 24/05/2017 às 1:56
Alexandre Acciolly foi apontado como operador de uma conta em Cingapura, que serviria para depósitos de propina para o senador Foto: Foto: Reprodução / Denilson Santos / AgNews


O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação contra o empresário Alexandre Acciolly. A abertura é consequência da interceptação pela Polícia Federal (PF) de conversas entre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e um homem, que, segundo relatório da Operação Patmos, seria Acciolly. O empresário já foi citado por um delator da empreiteira Odebrecht, acusado de ser dono de uma conta em Cingapura, que serviria para depósitos de propina para Aécio.

Segundo notícia publicada pelo UOL, três ligações foram interceptadas pela PF, todas elas feitas pelo celular de um assessor do senador afastado. Uma foi feita para a irmã dele, Andrea Neves, presa durante a Operação Patmos. As outras duas são para um mesmo homem, referenciado por Aécio como “Moreno”. O interlocutor também chama o senador de “Moreno”. As conversas aconteceram entre os dias 29 e 30 de abril.

Na primeira conversa, Aécio Neves chama a atenção do seu interlocutor para notícias publicadas no jornal “O Estado de São Paulo”, no dia 29. Segundo a PF, a conversa é cifrada e usa os termos “motoqueiros malucos” e “passeio de moto” como linguagem cifrada. Acciolly nega que seja o “Moreno”.

Aécio Neves: Deixa eu te falar, cara. Não sei se vai ser simples… Mas eu precisava que você tentasse dar uma procurada lá na… Naquele negócio do passeio de moto, sabe?

Moreno: Uhum

Aécio: Naquela organização que a gente ia fazer em julho

Moreno: Uhum

Aécio: É. Porque… Você viu os jornais hoje?

Moreno: Mais ou menos. Uma parte sim, outras… algumas outras coisas aí.

Aécio: É não. É não. Tem uns negócios listados que o cara ia ser o guia, sabe? [inaudível]

Moreno: Uhum. Sei.

Aécio: Procurou para… pra fazer o roteiro, entendeu? Ainda…

Moreno: Tá.

Aécio: E eu tô sem nenhuma… Sabe… Informação que, que por conta daquelas coisas, daqueles malucos lá, sabe?

Moreno: Uhum.

Aécio Neves: Aqueles motoqueiros malucos que falaram qualquer coisa. Em vez de chamar, eles resolveram se antecipar, sabe?

Segundo a PF, “motoqueiros malucos” e “passeio de moto” seriam alusões às informações publicadas no dia 29 de que executivos da empreiteira Andrade Gutierrez teriam se adiantado a uma convocação do MPF para dar explicações sobre suspeitas de pagamento de propina referente às obras da hidrelétrica de Santo Antônio, no estado de Rondônia. “Motoqueiros” seriam os delatores, “passeio” a delação.

A identidade do “Moreno” da segunda conversa é deduzida pelos investigadores da PF por conta da alusão a uma criança que estaria no telefone com o “Dindo” dela, segundo Aécio Neves. Seria uma menina, filha do empresário e afilhada do senador. “Moreno” diz parte do nome dela.

Há suspeita de que o senador afastado tenha usado o empresário para obter mais informações sobre a delação de Sergio Andrade, dono da Andrade Gutierrez, e demais executivos da empreiteira e de suas relações com Aécio Neves. Um ex-executivo da Odebrecht, Henrique Valladares, delatou que a empreiteira fez doações para Aécio através de depósitos em uma conta bancária em Cingapura, no nome de Acciolly. O empresário negou que tivesse essa conta no exterior.

Contraponto

Alexandre Acciolly, por meio de nota de sua assessoria, informou que não é o interlocutor da primeira conversa com Aécio. Sobre a segunda conversa, alegou ter feito parte do diálogo. Na nota, esclarece que a confusão se dá por ele e o senador fazerem parte de um grupo de dez amigos que se tratam mutuamente como “Moreno”. Isso ficaria claro na segunda conversa, onde o senador começa com “Fala, Moreno”, que é respondido com “E aí, Moreno”.

O senador afastado pelo Superior Tribunal Federal (STF) Aécio Neves publicou um vídeo nesta terça-feira (23) onde se declara “vítima de uma armação”. Afirma, ainda, que nunca ganhou dinheiro com sua carreira política.

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