A Procuradoria-Geral da República (PGR) avisou à defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que a delação premiada do peemedebista não será firmada durante a gestão de Rodrigo Janot. Os procuradores suspenderam as negociações com a defesa do deputado cassado, preso na Lava Jato desde outubro do ano passado em Curitiba. Desde o último mês, Cunha tentava um acordo com os investigadores.
O procurador-geral da República deixa o cargo em 18 de setembro, quando passa o comando do Ministério Público Federal para Raquel Dodge. Até lá, Cunha não deve voltar a negociar o acordo. A situação do ex-deputado é considerada crítica, pois a Lava Jato já obteve muitas informações, usadas nas denúncias contra ele, antes da disposição de Cunha para negociar um acordo.
Investigadores costumavam dizer que Cunha só poderia fechar um acordo de delação se aceitasse falar sobre lideranças políticas em cargo superior ao dele próprio. Mas, segundo fontes envolvidas nas negociações do acordo, o ex-presidente da Câmara omitiu informações sobre aliados durante as tratativas e acusou apenas figuras com as quais rompeu nos últimos meses antes de sua prisão. Ele também teria apresentado poucas provas para as denúncias que prometia fazer.
Considerando a condição jurídica do ex-parlamentar e o que já foi revelado sobre sua suposta participação no esquema de corrupção investigado na Lava Jato, Cunha precisa entregar informações consistentes para que o MP faça um acordo.
O ex-presidente da Câmara já foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a mais de 15 anos de prisão, em uma das frentes em que é investigado na Lava Jato. Inicialmente, procuradores da força-tarefa diziam que não seria possível fechar as delações de Cunha e do operador financeiro Lúcio Funaro, em razão da proximidade dos dois e das semelhanças de fatos delatados. Segundo eles, só uma delas iria prosperar. Recentemente, contudo, a PGR passou a negociar com ambos. A delação de Funaro está na reta final e deve ser assinada ainda nesta semana.
Antes de ser preso, Cunha acusou Janot de fazer perseguição política ao investigá-lo e colocou o procurador-geral da República na mira de suas críticas. A estratégia foi posteriormente considerada equivocada por advogados ligados ao peemedebista, porque o embate poderia criar um clima hostil para eventual negociação na PGR. Parte dos investigadores considera que não é necessário fechar um acordo com Cunha, uma vez que muitas informações foram obtidas de outras maneiras.
O núcleo mais próximo a Janot, no entanto, reforçou que uma delação bem fundamentada seria aceita, mas a proposta feita nas negociações na PGR ficou muito aquém do desejado. A aposta de quem acompanha as negociações é de que na gestão de Raquel Dodge a situação de Cunha possa ser reavaliada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.