O ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB/MS) afirmou, em delação premiada, que "herdou" um acerto de propinas de 40% sobre o valor de precatórios de uma construtora quitados pelo Estado. O esquema, segundo Silval, já estava em vigor desde a gestão de Blairo Maggi (PP-MT) e teria rendido R$ 35 milhões em vantagens indevidas somente em 2010.
A delação de Silval foi gravada em áudio e vídeo pela Procuradoria-Geral da República. O delator entregou aos investigadores vídeos da farra da propina em Cuiabá. As imagens mostram deputados e também o atual prefeito da capital de Mato grosso, Emanuel Pinheiro (PMDB) retirando mesadas milionárias das mãos do ex-chefe de gabinete de Silval no Palácio Paiaguás, Silvio Cesar.
Segundo o delator, Eder Moraes, que foi seu secretário da Casa Civil e já era chefe da pasta da Fazenda quando Blairo ocupava o Palácio Paiaguás, o procurou no início de sua gestão. Moraes, segundo Silval, o informou que "o Estado de Mato Grosso estava efetuando a quitação de precatórios da Encomind na gestão de Blairo Maggi".
O então secretário informou que a construtora pagava um "retorno a titulo de propina no valor aproximado de 40% do valor recebido do Estado". Silval conta que ouviu do ex-secretário que ainda haveria outros precatórios da empresa e que o mesmo acerto poderia ser feito.
O ex-governador relatou ter se reunido com Moraes e com o sócio da construtora, Rodolfo Borges de Campos, e acertado valores para sua campanha de 2010.
Segundo Silval, R$ 80 milhões em precatórios foram pagos à Encomind somente entre abril e dezembro de 2010. O delator alega ter recebido pelo menos R$ 35 milhões da construtora.
Em resposta à acusação, Blairo Maggi divulgou a seguinte nota:
"Deixo claro, desde já, que causa estranheza e indignação que acordos de colaboração unilaterais coloquem em dúvida a credibilidade e a imagem de figuras públicas que tenham exercido com retidão, cargos na administração pública. Mesmo assim, diante dos questionamentos, vimos a público prestar os seguintes esclarecimentos:
1. Nunca houve ação, minha ou por mim autorizada, para agir de forma ilícita dentro das ações de Governo ou para obstruir a justiça. Jamais vou aceitar qualquer ação para que haja "mudanças de versões" em depoimentos de investigados. Tenho total interesse na apuração da verdade. Qualquer afirmação contrária a isso é mentirosa, leviana e criminosa.
2. Também não houve pagamentos feitos ou autorizados por mim, ao então secretário Eder Moraes, para acobertar qualquer ato. Por não ter ocorrido isto, Silva Barbosa mentiu ao afirmar que fiz tais pagamentos em dinheiro ao Eder Moraes.
3. Repudio ainda a afirmação de que comandei ou organizei esquemas criminosos em Mato Grosso. Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas.
4. Sempre respeitei o papel constitucional das Instituições e como governador, pautei a relação harmônica entre os poderes sobre os pilares do respeito à coisa pública e à ética institucional.
5. Por fim, entendo ser lamentável os ataques à minha reputação, mas recebo com tranquilidade a notícia da abertura de inquérito, pois será o momento oportuno para apresentação de defesa e, assim, restabelecer a verdade, pois definitivamente acredito na Justiça.
A reportagem não conseguiu contato com a construtora. O espaço está aberto para manifestação.