Lula nega conhecer documento encontrado em sua casa

Ex-presidente negou saber que a Odebrecht teria envolvimento na compra do terreno onde seria construído nova sede do Instituto Lula
Estadão Conteúdo
Publicado em 13/09/2017 às 21:03
Ex-presidente negou saber que a Odebrecht teria envolvimento na compra do terreno onde seria construído nova sede do Instituto Lula Foto: Reprodução


Em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta quarta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou conhecer um contrato de opção de compra e venda do imóvel em São Paulo encontrado em sua casa em buscas e apreensões da Polícia Federal. Trata-se de um termo de opção de compra e venda em nome do pecuarista José Carlos Bumlai de terreno aonde supostamente seria sediado o Instituto Lula, segundo o Ministério Público Federal, delatores da Odebrecht e o ex-ministro Antonio Palocci. O imóvel é apontado pela força-tarefa da Lava Jato como suposta propina da construtora a Lula.

Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal os repasses ilícitos da Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. O montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil.

O ex-presidente negou saber que a Odebrecht teria envolvimento na compra do terreno e que o imóvel teria sido comprado em nome de Glaucos da Costamarques, primo de seu amigo José Carlos Bumlai.

Em meio ao interrogatório, Moro expôs a Lula um documento. "Um documento que eu vou lhe mostrar, senhor presidente, evento 1, anexo 234 desse processo. Um contrato de opção de compra entre a ASA agência sul americana e do outro lado Jose Carlos Bumlai representado por Roberto Teixeira e diz respeito a este imóvel na rua Haberbeck Brandão. Vou mostrar esse documento".

Lula respondeu dizendo que "queria até fazer uma sugestão": "Essas coisas feitas entre o Bumlai e qualquer outra pessoa que eu não participei, é melhor o senhor perguntar para eles. Porque eu não sou obrigado e nem Jose Carlos Bumlai tinha qualquer obrigação de apresentar qualquer projeto a mim ou Roberto Teixeira, como eu não tinha que prestar contas do que eu fazia"

Moro: Esse documento que foi lhe mostrado o senhor tinha conhecimento?

Lula: Não

Moro: Já tinha visto anteriormente?

Lula: Não

Moro: Consta afirmação do Ministério Público Federal que esse imóvel teria sido encontrado em sua residência.

Lula: Eu não sei o que eles encontraram na minha residência. Eles entraram 6h da manhã, entraram num escritório na minha casa, que faz exatamente 20 anos que eu moro naquela casa e 20 anos que eu não entro naquele escritório. Eu diria que era quase um lugar de jogar tranqueira, papeis e mais papeis. Tá? O fato de terem encontrado isso no escritório na minha casa não significa que eu tenha conhecimento ou que tenha visto. Até porque eu não sou obrigado a acreditar que encontraram na minha casa.

Moro: O senhor não confirma então que foi encontrado na sua casa ou se saberia explicar...

Lula: Eu não confirmo. Eu tenho dúvidas, porque depois do que estão fazendo comigo, eu sou um homem que tem muitas dúvidas hoje.

"Relação com Odebrecht era igual a que tinha com todo empresariado"

O ex-presidente afirmou ainda que sua relação com a Odebrecht era a mesma que ele tinha com todo o empresariado brasileiro.

"Fui o presidente que mais se reuniu com empresários de todos os setores desse País. Fui o presidente que mais viajou o mundo, fui o presidente que mais viajou no País e, portanto, fui o presidente que mais teve contato com empresário. Muitos, mas muitos", disse Lula ao responder à pergunta de uma procuradora do Ministério Público sobre suas relações com a empreiteira.

Na sequência, emendou que Emílio Odebrecht, patriarca da família dona da construtora, era tratado como um grande empresário assim como os executivos da Camargo Corrêa, da OAS, do Pão de Açúcar, da indústria automobilística e do setor de etanol.

Questionado se Emilio levava às reuniões com Lula pedidos de interesse do grupo, respondeu que as pautas dos encontros eram relativas ao "desenvolvimento do Brasil", no que os assuntos da Petrobras estavam incluídos.

O petista disse não ter conhecimento do projeto de reforma do Instituto Lula, que, segundo depoimento dado por Alexandrino Alencar, um dos delatores da Odebrecht, teria sido apresentado a Lula. "Acho que é mentira", afirmou Lula, que confirmou que Alencar acompanhou "algumas reuniões" entre o ex-presidente e Emilio Odebrecht.

Lula pergunta a Moro se ele é imparcial e reclama de condenação

"Eu vou chegar em casa amanhã e vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara nos meus filhos e dizer que eu vim para Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?" Com essa pergunta ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou seu segundo interrogatório como réu da Lava Jato, em Curitiba.

"Bem, primeiro, não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta a mim, mas sim", respondeu Moro.

Lula rebate: "Porque não foi o procedimento na outra ação". Lula foi condenado em julho a 9 anos e 6 meses de prisão por Moro - que recorre em liberdade - por receber propinas da OAS no caso tríplex do Guarujá (SP).

"Não vou discutir a outra ação aqui com o senhor, senhor ex-presidente, se fôssemos discutir aqui, a minha convicção é que o senhor é culpado", interrompeu Moro.

O juiz disse ainda que Lula estava discutindo o processo no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. "Represente a suas razões no tribunal, se a gente fosse discutir aqui, não seria bom para ao senhor."

Lula insiste e diz que vai "continuar esperando que justiça faça justiça nesse País". Moro interrompe a audiência.

Palocci

Em uma audiência com ataques duros ao Ministério Público Federal, Lula disse que é vítima de uma "caça às bruxas" e minimizou as revelações do ex-ministro Antonio Palocci. O petista confessou nesse processo, na quinta-feira, 6, que participou do esquema de repasse de propinas da Odebrecht para Lula e citou um "pacto de sangue" de R$ 300 milhões para o ex-presidente e para o PT.

Segundo Lula, ele tem tido paciência. "Muita gente achou que eu ia chegar aqui com muita raiva do Palocci. Eu achei que Palocci está preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre, tem o direito de ficar com o pouco de dinheiro que ele ganhou fazendo palestras."

O ex-presidente disse que "o que não pode, é se você não quer assumir as responsabilidades pelos atos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros".

"Eu fiquei muito preocupado com na delação do Palocci, porque ele poderia ter falado eu fiz isso de errado, e fiz isso. Ele espertamente disse 'não é que eu sou santo' e pau no Lula."

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