Quais as chances de Bolsonaro?

Em segundo lugar nas pesquisas, Jair Bolsonaro já preocupa PT e PSDB como candidato à presidência
Paulo Veras
Publicado em 04/11/2017 às 15:00
Em segundo lugar nas pesquisas, Jair Bolsonaro já preocupa PT e PSDB como candidato à presidência Foto: Foto: reprodução/Direita Pernambuco


O rosto do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) já estampa pelo menos quatro outdoors em cidades estratégicas do Agreste e Sertão de Pernambuco. As peças foram colocadas por adeptos das ideias conservadoras, que sonham em vê-lo como candidato à presidência da República em 2018. Apesar de polêmico e controverso, Bolsonaro já amealha 13% das intenções de voto, segundo o Ibope, que o coloca em segundo lugar na corrida presidencial. O apelo do prefeito de São Paulo, João Doria, para que PSDB, PMDB e DEM se unam em uma alternativa contra Bolsonaro mostra como o deputado federal vem se mostrando um nome competitivo para 2018.

Hoje, analistas avaliam como pequena a chance de Bolsonaro chegar ao Palácio do Planalto. Mas admitem que o deputado pode se favorecer da grave crise política e da polarização ideológica existente no País em um cenário que já desafia as forças interessadas na presidência. Até agora, os números do Ibope e Datafolha mostram que a divisão política interna que enfraqueceu o PSDB e nomes como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) têm tido dificuldade de se consolidar como terceira via. Saudosista dos governos militares, Bolsonaro é o nome que disputaria hoje o segundo turno com o ex-presidente Lula (PT); que condenado na primeira instância não sabe se disputará a presidência.

“Não acho que o Bolsonaro é um candidato que deva ser ignorado. Embora ele não vá ter um crescimento muito acima de 20% e os candidatos extremistas tradicionalmente dissolvam sua popularidade durante a campanha, ele tem, sim, chances de ir para um segundo turno. Não é que ele seja um arrebatador de votos, mas você pode ter um cenário em que a Marina, o Alckmin e o Álvaro Dias tenham entre 15% e 10%”, explica Roberto Gondo, professor de Comunicação Política da Universidade Makenzie. “Na disputa com o Lula o Bolsonaro tem mais chance do que contra algum outro candidato mediador. A rejeição do Lula é muito alta. Ele pode ganhar não por ser o melhor candidato, mas porque os eleitores dos que ficarem em terceiro e quarto lugar não votariam no PT”, argumenta.

As declarações polêmicas sobre homossexuais, negros e feministas podem atrapalhar Bolsonaro de falar para um público maior. Mas o modelo de campanha em 45 dias reduz o tempo para desconstrução dos adversários. Mesmo assim, a maior dificuldade de Bolsonaro deve ser de estrutura. Desde os anos 90, PMDB, PT e PSDB se consolidaram como as principais máquinas eleitorais no Brasil, monopolizando financiamento, tempo de TV e palanques estaduais; três elementos que farão falta ao deputado federal.

MILITÂNCIA

A aposta deve ser na militância. Só o grupo Direita Pernambuco, que instalou os outdoors pró-Bolsonaro com dinheiro cotizado dos simpatizantes, já realizou mais de cem atos em várias regiões do Estado ao longo deste ano para difundir ideias conservadoras e divulgar o nome do pré-candidato em caminhadas, carreatas e panfletagens. O grupo tem 89 mil seguidores nas redes sociais e mais de dois mil membros ativos em 130 cidades pernambucanas. Já participou de reuniões para traçar estratégias na casa de um dos filhos de Bolsonaro, no Rio de Janeiro. E deve apoiar o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Alberison Carlos, na disputa para deputado.

“Me identifiquei muito com ele pelas pautas conservadoras e pelo estilo diferente de um político tradicional. Ele fala da defesa da família, em penas mais rígidas para crimes como o estupro, na revogação do estatuto do desarmamento e defende as crianças da cartilha homossexual imposta pela esquerda”, explica Leandro Quirino, presidente do Direita Pernambuco. “Quanto mais escândalos aparecem na TV, o povo vai ficando sem opção. A gente já está numa situação de bastante revolta e descrença na classe política. E ele conseguiu trazer essa esperança”, argumenta. O grupo tenta trazer Bolsonaro de volta a Pernambuco até o final do ano.

Para o cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor da PUC-SP, o discurso de Bolsonaro gira em torno de algumas palavras de ordem, como a segurança pública e um Estado forte para reprimir o crime organizado e a ferrenha oposição aos direitos LGBT, ao aborto e ao consumo de drogas. “Essa radicalização ajuda bastante em uma disputa proporcional, como é na Câmara dos Deputados, onde ele está há vários mandatos. No entanto, o discurso radical torna mais difícil uma eleição para um cargo majoritário. Nesses casos, o eleitor tende ao centro. Então o discurso radical acaba apontando não só os alcances, mas os limites para o crescimento da sua candidatura”, avalia.

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