Os cantores Marisa Monte e Arnaldo Antunes divulgaram, na noite desta quarta-feira (29), uma nota de esclarecimento na qual contestam o uso da canção "Ainda bem", composta pelos dois, em um vídeo publicado nas redes sociais do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). No texto, os artistas dizem que não autorizaram o uso da música e solicitaram, com base na Lei de Direitos Autorais, que o gestor retirasse o conteúdo de circulação, mas não foram atendidos. "Nos sentimos ultrajados e lesados em nosso direito patrimonial e moral", diz o comunicado.
Segundo a nota, a dupla tomou conhecimento da existência do vídeo, que divulga a inauguração de uma obra da prefeitura no Parque do Ibirapuera, no dia 21 de agosto deste ano. Os músicos afirmam ainda que a peça tem o objetivo de "promover as atividades do prefeito, suas parcerias institucionais e comerciais, inclusive citando nominalmente uma marca de artigos esportivos".
Como discordaram do uso da canção no material, Marisa e Arnaldo dizem que notificaram o prefeito e suas editoras (SonyATV e Universal Music Publishing) sobre o uso "ilegal" da obra e solicitaram "a retirada imediata do conteúdo de circulação e o esclarecimento ao público de que a canção havia sido usada sem nosso consentimento". Eles contam ainda que só receberam uma resposta oficial dois meses depois, afirmando que a música fora captada espontâneamente no local da gravação. O vídeo não foi retirado do ar.
"O vídeo é claramente uma peça audiovisual de propaganda política, produzida, editada e finalizada, com o evidente objetivo de autopromoção. A música é mantida como trilha sonora do vídeo, sincronizada continuamente por mais de 40 segundos ao fundo de imagens sequencialmente editadas", contestam os músicos no comunicado.
Ao longo da nota, que possui dez parágrafos, marisa e Arnaldo dizem ainda que informaram ao prefeito sobre as regras de utilização de autorias e fonogramas em obras audiovisuais e solicitaram aos sites onde o material havia sido publicado que ele fosse removido. Apenas o Facebook e o Instagram atenderam à solicitação.
"Nos sentimos ultrajados e lesados em nosso direito patrimonial e moral, uma vez que, além de não termos sido sequer consultados, nunca permitimos o uso de nenhuma de nossas canções para fins políticos. Queremos deixar claro que a nossa motivação jamais foi financeira, e sim educativa. Enquanto autores e artistas, esperamos respeito à Lei de Direitos Autorais", cravam os compositores, ressaltando que até sugeriram que fosse feita uma doação à Sociedade Viva Cazuza como forma de solução amigável, o que não foi acatado pelo tucano.
Em entrevista ao site do jornal Folha de S. Paulo, Doria disse ser "fã de Marisa Monte" e que "não imaginou" que o uso da canção "pudesse criar qualquer tipo de constrangimento" a ela.