Ex-procurador recebeu alerta sobre operação da Lava Jato um dia antes

Na mensagem, o ex-procurador discutia com Esther Flesch um contrato que ampliaria os valores de honorários pagos pela JBS à dupla
JC Online
Publicado em 21/02/2018 às 8:14
Na mensagem, o ex-procurador discutia com Esther Flesch um contrato que ampliaria os valores de honorários pagos pela JBS à dupla Foto: Foto: Alex Lanza/MPMG)


Enquanto atuava como advogado da J&F, o ex-procurador Marcello Miller já sabia que a força tarefa da Lava Jato deflagraria a operação que prendeu a irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves e o seu primo Frederico Pacheco.

Segundo informações do Folha de S. Paulo, o vazamento foi registrado por ele mesmo, graças as uma mensagens de WhatsApp trocadas com sua advogada, que também participava do caso. Fachin autorizou a quebra do sigilo eletrônico.

Na mensagem, o ex-procurador discutia com Esther Flesch um contrato que ampliaria os valores de honorários pagos pela JBS à dupla.

"Vamos correr, porque a informação insider é a de que a operação pode ser deflagrada amanhã", diz Miller na mensagem.

Na mensagem à colega, Miller não diz quem lhe repassou a informação de que a operação seria deflagrada. Mas ao usar o termo "insider", o ex-procurador dá a entender que obteve o relato junto aos investigadores.

No dia 20 de maio, o ex-procurador escreveu: "Pellela acabou de confirmar: PGR solta nota agora. Curta. Negando minha participação em delação". Eduardo Pellela era chefe de gabinete de Janot.

Delação

Edson Fachin é quem decidirá sobre o pedido de rescisão do acordo de delação premiada do empresário feito pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

Em sua manifestação, enviada ao STF em dezembro do ano passado, a procuradora apontou três omissões de Joesley: o pagamento de R$ 500 mil ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) para o parlamentar se posicionar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, a existência de uma conta bancária no Paraguai em nome de Saud e a participação do ex-procurador Marcello Miller na elaboração da delação, enquanto ele era membro do Ministério Público Federal.

As delações passaram a ser questionadas desde que gravações de conversas de Joesley Batista, um dos sócios da J&F, revelaram a proximidade de Miller com os executivos. Após a assinatura das delações, o ex-procurador foi contratado para a defesa do J&F no escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe.

Esclarecimentos

A Folha de S. Paulo procurou a assessoria do ex-procurador e afirmaram que
a informação de que uma operação da Lava Jato seria deflagrada no dia seguinte à troca de mensagens "não adveio de nenhum órgão estatal".

"O conteúdo da mensagem não adveio de nenhum órgão estatal, tendo origem na sua atuação como advogado, o que o obriga a preservar o sigilo profissional", disse.

A assessoria de Pelella diz que à declaração de Miller era uma "resposta enérgica" necessária "diante das inverdades que se veiculavam na imprensa". Ela, contudo, não esclarece o contato feito entre Miller e Pelella.

O escritório Trench Rossi Watanabe afirmou por meio de uma nota, que sempre "colaborou com as autoridades", destacou que os envolvidos não fazem mais parte de seu quadro de sócios e manifestou "total disposição" em auxiliar nas investigações.

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