O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu nesta quarta-feira (28), em Curitiba, sua caravana pelo sul do país, marcada por protestos de grupos de direita e tiros disparados no penúltimo dia da viagem contra dois ônibus de sua comitiva.
Em um ato que reuniu cerca de 3 mil pessoas, segundo a polícia, Lula descreveu os incidentes que marcaram os dez dias da caravana pelo Sul, como o lançamento de ovos e pedras, e ironizou os rojões que interromperam com frequência seus discursos.
"Em cada cidade que a gente ia eles ficavam soltando rojão e eu falava: guarde o rojão para o dia 1º de janeiro, na minha posse".
Os rojões e panelaços voltaram a interromper o discurso do ex-presidente, desta vez na Praça Santos Andrade em Curitiba, sob forte vigilância policial.
Lula discursou em sua manifestação "suprapartidária contra a violência e pela democracia" ao lado de outros dois pré-candidatos da esquerda às eleições presidenciais de outubro: Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e Manuela Dávila, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Boulos associou os três tiros que na noite de terça-feira atingiram dois ônibus da caravana de Lula à morte da vereadora carioca Marielle Franco, do seu PSOL.
"Esse mesmo clima de fascismo que matou Marielle foi o que deu o tiro contra a caravana de Lula ontem. Só vamos combater o fascismo com unidade".
Lula, de 72 anos, é favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições, embora sua candidatura deva ser invalidada por ser ficha suja, após a confirmação da condenação e sentença a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
S egundo colocado nas pesquisas, ainda que com a metade dos votos atribuídos a Lula, está o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), um apologista da ditadura militar (1964-85), que nesta quarta-feira desafiou Lula em Curitiba.
Outro ato reuniu dezenas de partidários do Movimento Brasil Livre (MBL), muito ativo nos protestos que acompanharam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.
Durante a caravana que durou dez dias pelos três estados do sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), os adversários de Lula não deram trégua, atirando ovos e pedras contra suas manifestações.
Na noite de terça-feira ocorreu o incidente mais grave, quando dois ônibus de sua comitiva foram atingidos por tiros entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. Dois disparos atingiram um ônibus que levava jornalistas e outro, convidados do PT. Não houve feridos.
O presidente Michel Temer lamentou o ataque. "É uma pena que tenha acontecido isso porque vai criando um clima de instabilidade no país, de falta de pacificação, que é indispensável no presente momento", manifestou-se o presidente.
"É preciso identificar os responsáveis porque não pode se repetir dentro do regime democrático", reagiu o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann.
"Se pensam que com pedras e tiros vão abalar minha disposição de lutar estão errados", tuitou Lula, que anteriormente havia atribuído os ataques a "grupos fascistas".
Ao chegar ao aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, Bolsonaro foi ovacionado por simpatizantes, chamado de 'Mito' e carregado até um carro de som, de onde saudou centenas de partidários, pedindo 'cana' (prisão) para Lula e uma política de segurança que dê carta livre à Polícia para combater a insegurança.
"Quero uma polícia civil e militar que, em defesa do povo, atire para matar", afirmou.
"Não podemos aceitar eleições sem Lula ir preso. Chega de fraude na política!" - exclamou.
Os críticos a Lula se sentiram frustrados depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu prender o ex-líder sindical pelo menos até 4 de abril, quando os magistrados devem decidir se ele têm direito a apelar em liberdade às máximas instâncias judiciais da longa sentença a que foi condenado.
"Estamos lutando para livrar o país da corrupção, e Bolsonaro é a única opção", afirmou na saída do aeroporto a manifestante Agnes Plochrski, uma publicitária de 47 anos.
"Pelo que se vê nestas hostilidades entre estes movimentos no sul, se Lula não for preso, teremos uma campanha marcada pela violência", afirmou o cientista político Paulo Mora.
Curitiba é a cidade onde atua o juiz federal Sérgio Moro, encarregado da primeira instância da Operação Lava Jato, que investiga um gigantesco esquema de corrupção montado na Petrobras, que levou para a prisão empresários poderosos e políticos de todo o espectro político.
A Lava Jato está na base da condenação de Lula e tem na mira o presidente Temer e vários de seus principais colaboradores.