Com as Forças Armadas nas ruas, aplicação de multas e apreensão de veículos e bens privados, o governo busca enfrentar a greve dos caminhoneiros que completou seu sexto dia neste sábado (26), e afirma estar em vias de normalizar a situação.
"Estamos caminhando no horizonte de normalizar a situação", disse em coletiva de imprensa no começo da noite o ministro do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen.
Ele explicou que foram priorizados aeroportos, termelétricas e que foi iniciado o reabastecimento de insumos em centros de saúde. Etchegoyen disse que este último foi um ponto dramático e acrescentou que durante a paralisação o sistema de transplante de órgãos foi afetado.
O Executivo já tinha ameaçado multar os caminhões carregados com medicamentos e material médico que participassem da greve. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann disse, ao lado de Etchegoyen, ter emitido 400 atas de infração da ordem de R$ 2,33 milhões, sem contar multas adicionais de R$ 100 mil por hora de paralisação, aplicadas a donos de transportadoras.
"Temos comprovado de que essa paralisação que foi feita por caminhoneiros autônomos teve, em parte, os apoio criminoso de patrões e empresas. Elas irão pagar por isso", disse Jungmann, informando que a Polícia Federal abriu 37 investigações em 25 estados. "Os responsáveis estão sendo investigados", acrescentou.
Mais cedo, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que a Polícia Federal tinha solicitado à Justiça ordens de prisão contra empresários de transportadoras que fizerem locaute ou quando um patrão iniciar uma greve, o que é ilegal.
No começo da noite, ainda eram registrados 566 bloqueios parciais nas estradas, disse Jungmann, destacando que São Paulo tinha 97% de suas vias liberadas e Brasília, 70%.
"O Brasil não será refém [de nenhum setor] e o governo do presidente Temer está decidido a utilizar todos os seus recursos para garantir isso", advertiu Jungmann.
Porta-vozes do Executivo afirmaram que a Reduc, a refinaria de Duque de Caxias, uma das maiores do país, situada na Baixada Fluminense, estava totalmente liberada.
Apesar de o governo ter garantido na quinta-feira ter chegado a um acordo com os caminhoneiros que desde a segunda protestam contra a alta nos preços dos combustíveis, e que na sexta-feira ordenou a intervenção das Forças Armadas, a paralisação continuava afetando o abastecimento de alimentos, combustíveis e o funcionamento dos transportes públicos e alguns serviços em boa parte do território nacional neste fim de semana.
No transcurso da tarde, temer decidiu, via decreto, autorizar a apreensão de veículos e bens privados "necessários para o transporte de carga considerados essenciais pelas autoridades", que trabalham na liberação dos bloqueios.
Neste sábado, imagens de caminhões escoltados por efetivos da Polícia e das Forças Armadas liberando as estradas marcaram o dia. No entanto, no meio da tarde, 14 aeroportos continuavam sem querosene.
Os problemas de abastecimento afetaram os transportes urbanos durante toda a semana.
No Rio, o sistema BRT de ônibus articulados que transitam por faixas exclusivas ficou parcialmente interrompido devido à falta de combustível. Linhas de ônibus em vários estados também pararam de funcionar devido à falta de abastecimento, assim como serviços de táxi.
O bloqueio forçou o cancelamento de voos em vários aeroportos, sendo os de Brasília, Recife e Rio de Janeiro os mais afetados. Também paralisou as linhas de montagem de carros, reduziu a atividade em grandes frigoríficos e provocou o aumento de preços de combustíveis e alimentos.
A cidade de São Paulo, capital financeira do país, decretou estado de emergência, assim como outras 27 cidades do estado, uma medida que permitirá às autoridades, entre outras coisas, requisitar ou apreender bens privados, como o combustível armazenado em um posto de gasolina.
Faltando quatro meses para as eleições presidenciais de outubro, a baixa credibilidade que restava ao impopular governo Temer continua diminuindo.
Na sexta-feira (25), Temer havia justificado as medidas afirmando que uma minoria radical havia mantido o bloqueio a estradas, apesar do acordo assinado no dia anterior com vários sindicatos para uma trégua de 15 dias que permitisse avançar nas negociações.
Vários líderes sindicais criticaram a decisão de usar as Forças Armadas "como instrumento de repressão", comparando-a "uma tentativa de apagar um incêndio com gasolina".
A Anistia Internacional considerou a medida inadmissível, afirmando que o papel do Exército não é "pôr fim a manifestações ou greves".