O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira (6) que a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém ainda não está decidida, após ter afirmado diversas vezes sua determinação em tomar essa medida.
Questionado pela imprensa em Brasília, Bolsonaro garantiu que o adiamento de uma visita do chanceler Aloysio Nunes ao Egito se deveu a problemas de agenda, e não a represálias do Cairo por seus anúncios relacionados à mudança da embaixada.
Ele acrescentou que essa decisão "não é um ponto de honra" para o Brasil e que "quem decide onde é a capital de Israel é o povo, é o Estado de Israel. Se eles mudaram de local".
"Pelo que vi, é questão de agenda", respondeu sobre o adiamento da visita de Nunes. "Seria prematuro o país anunciar uma retaliação em função de uma coisa que não está decidida ainda", disse.
Bolsonaro, que assume em 1º de janeiro, ainda não anunciou quem será seu ministro de Relações Exteriores.
Mas, alinhado com os Estados Unidos, Bolsonaro afirmou durante a campanha que levaria a embaixada brasileira para Jerusalém, cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos, que até hoje é alvo de uma disputa sensível.
Após ser eleito, nessa quinta (1º) e nessa segunda-feira (5) reiterou sua intenção.
"Como afirmado durante a campanha, pretendemos transferir a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Israel é um Estado soberano e nós o respeitamos", tuitou na semana passada.
Especialistas consideram que este é um movimento arriscado, contrariando a tradição diplomática brasileira dos últimos 50 anos, e que também poderia prejudicar as relações comerciais com os países árabes.
Segundo dados do Ministério da Indústria e do Comércio Exterior, os países que compõem a Câmara de Comércio Árabe compram 19% da carne bovina exportada pelo Brasil. De janeiro a setembro, foram 229 mil toneladas
O embaixador da Palestina no Brasil disse nesta segunda-feira esperar que a promessa do presidente eleito Jair Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém seja apenas "um anúncio de campanha".
O Estado hebreu considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital, enquanto os palestinos querem que Jerusalém Ocidental seja a capital de seu futuro Estado.
Para a comunidade internacional, o estatuto da Cidade Santa tem que ser negociado entre as duas partes, e as embaixadas não devem se instalar ali até que um acordo tenha sido alcançado.
Israel ocupa Jerusalém Oriental desde a guerra de 1967 e posteriormente a anexou, ato nunca reconhecido pela comunidade internacional.
O Brasil reconheceu a Palestina como Estado em 2010, durante a Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas desde 1975, durante a ditadura militar, reconhece a OLP como movimento de libertação nacional, segundo o Ministério de Relações Exteriores.