A Polícia Federal (PF) já cumpriu seis dos 11 mandados de prisão que constam na 57ª da Operação Lava Jato, deflagrada na manhã desta quarta-feira (5). Três dos mandados são contra pessoas que estão no exterior, e foram emitidos alertas para a Interpol incluí-los na lista de procurados. Entre elas está um funcionário da Petrobras que atua em Houston, nos Estados Unidos.
Outro mandado de prisão é contra um funcionário da Petrobras que continua na ativa em um dos edifícios da empresa no Rio de Janeiro. Seu mandado não pôde ser cumprido porque ele se encontra internado há três dias, em um hospital da cidade.
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, as investigações indicam a existência de um esquema em que empresas privadas pagavam propina a funcionários da Petrobras para obter facilidades e melhores preços em operações de compra e venda de petróleo. O esquema teria funcionado até meados de 2014, com o envolvimento de funcionários da estatal, mas os investigadores não descartam a hipótese de os crimes terem continuado ou ocorrido em outras áreas da empresa.
O total de propinas que teria sido paga a funcionários da Petrobras entre 2009 e 2014 chega a 31 milhões de dólares, sendo 11 milhões desviados de operações com três grandes empresas estrangeiras que, segundo o MPF, têm faturamento anual maior que o da Petrobras: a Vitol, a Transfigura e Glencore. O procurador da República Athayde Ribeiro Costa, do MPF do Paraná, disse crer que o esquema era de conhecimento de executivos dessas empresas, que comercializam "de modo maciço e recorrente" com a Petrobras.
"A Petrobras vem colaborando com as investigações. Eles prontamente se dispuseram a entregar documentos e materiais em relação aos envolvidos. Isso demonstra que a empresa quer ajudar as autoridades brasileiras a resolver esses crimes", disse o procurador.
A PF e o MPF investigam também se houve omissão dolosa do ex-diretor Paulo Roberto Costa a respeito dos fatos. Costa foi beneficiado por um acordo de colaboração premiada com a Lava Jato, mas era obrigado a revelar todas as informações que dispunha sobre crimes na Petrobras. "Se caracterizada a omissão dolosa, ele perde os benefícios do acordo. Isso será apurado e, se verificado, as medidas serão adotadas", disse o procurador do MPF paranaense.
O delegado Felipe Pace, responsável pela investigação, disse que poucas vezes viu um caso com tantas provas documentais. Ele explicou que a natureza dinâmica e recorrente das operações exigia que os envolvidos trocassem mensagens constantemente, que eles tentavam encobrir usando codinomes e mensagens cifradas que chegavam a conter tabelas com a divisão dos valores a serem recebidos ilegalmente.
"As operações eram em grande frequência. Não tinha como não deixar rastro. Eles precisavam se comunicar, efetuar contato para saber qual valor podiam cobrar".
Os operadores do esquema atuavam aplicando pequenas diferenças nos preços de compra e venda de petróleo e derivado, que chamavam de "delta". Como as operações envolviam volumes altos de combustível em negociações diárias, a alteração de centavos no preço de cada barril chegava a render milhões de dólares em propina no período de um mês.