O presidente eleito, Jair Bolsonaro, vai assumir a Presidência em 1º de janeiro com a promessa de dar uma guinada à direita no comando do maior país da América Latina.
Mas, embora o político de extrema direita goze de uma popularidade de 75%, os desafios são enormes.
Confira a seguir os pontos-chave que o novo presidente vai enfrentar:
O Brasil é uma potência exportadora de matérias-primas, mas ainda está saindo de uma recessão recorde, que reverteu muitas das conquistas do período de bonança de apenas uma década atrás.
Bolsonaro indicou o liberal Paulo Guedes como superministro da Economia para impulsionar reformas que diminuam a crescente dívida brasileira, principalmente através de privatizações, mudanças fiscais e incentivo ao investimento estrangeiro.
Nesta área, um dos principais desafios será reformar o sistema previdenciário.
Mas o Partido Social Liberal (PSL) de Bolsonaro não conta com maioria no Congresso. Aprovar esta reforma exigirá alianças com membros de vários partidos, que compõem a chamada bancada 'BBB' (boi, bala e bíblia).
Segundo a consultoria Eurasia Group, estas mudanças representam um "verdadeiro desafio". O forte apoio público a Bolsonaro poderia lhe dar o poder de que precisa no Congresso, se agir rápido, mas até mesmo neste cenário, "se espera muito drama no Congresso", avaliou a empresa.
"Bolsonaro terá dificuldades implementando sua agenda fiscal", avalia Mayra Rodríguez Valladares, consultora e especialista em política latino-americana da MRV Asociates.
Rodríguez acrescenta que uma forte queda este mês nos preços do petróleo - produto que o Brasil exporta -, somada a uma desaceleração na China, seu principal parceiro comercial, geraram dificuldades para a economia brasileira.
Metas de longo prazo, como infraestrutura e capacitação profissional, são amplamente ignoradas, afirmou.
A nova orientação política brasileira será rapidamente explicada ao mundo através da diplomacia, cuja diretriz estará bastante inspirada no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem Bolsonaro é admirador.
Bolsonaro disse que vai retirar o país do Pacto Global de Migração da Organização das Nações Unidas (ONU) e está decidindo se fará o mesmo com o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, em consonância com Trump. Na mesma linha, acenou com a possibilidade de mudar a embaixada de Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
Adicionalmente, tem sido hostil com os investimentos chineses no Brasil e dito que fará tudo o que estiver em seu poder, "dentro da democracia", para desafiar os governos de Cuba e Venezuela.
Ele assumiria riscos de tensões com a Venezuela ao jogar duro? "Nem Bolsonaro, nem sua equipe têm experiência com política externa. Se isto evoluir para um incidente internacional, poderia terminar muito mal", disse Ryan Lloyd, pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo.
As duas principais promessas de Bolsonaro são reduzir os índices de criminalidade no país e acabar com a corrupção.
O capitão do Exército na reserva quer flexibilizar as leis para que os 'cidadãos de bem' possam ter acesso mais facilitado a armas de fogo. Seus críticos temem que isto possa agravar a situação em um país que registra 64.000 homicídios por ano. Durante seu governo, policiais, que são responsáveis por cerca de 5.000 mortes ao ano, poderiam ser beneficiados com o 'excludente de ilicitude' em casos de morte resultante de ações das forças de ordem.
O combate à corrupção é representada desde 2014 pela operação 'Lava Jato', que pôs no banco dos réus e atrás das grades dezenas de políticos e empresários, algo incomum no Brasil. Capitalizando a boa imagem da operação, Bolsonaro escolheu o juiz símbolo da 'Lava Jato', Sérgio Moro, para ser seu ministro da Justiça e Segurança Pública.
Mas a corrupção no Brasil tem raízes profundas e isso está começando a se evidenciar no próprio círculo pessoal e partidário de Bolsonaro. Com pessoas próximas sob suspeita de participação em atividades ilícitas, sua hoje elevada popularidade poderia cair.
Outro desafio doméstico inclui a proteção ao meio ambiente, em especial à Amazônia. Bolsonaro já disse que manterá os interesses do agronegócio e da mineração fora da discussão.
Lloyd prevê "tempos perigosos" para o Brasil nas mãos de um político de extrema direita, nostálgico da ditadura militar, que dirigiu o país entre 1964 e 1985.
"Bolsonaro não fala como um democrata, e seu círculo privado é inclusive pior, chegando a falar da possibilidade de fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal", disse.
"Poderíamos estar às portas da erosão do jogo democrático, talvez de um (dirigente como o falecido presidente venezuelano Hugo) Chávez da direita. Se isto sair espetacularmente mal, será o caos", acrescentou.