Em delações, executivos das empreiteiras Odebretch e Andrade Gutierrez apontam que políticos do PSDB de São Paulo, além de operadores ligados ao grupo, cobraram ao menos R$ 97,2 milhões em propinas ao longo de oito anos, segundo informações do UOL. Entre os citados estão o senador José Serra (PSDB-SP), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o ex-prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, atualmente PSD-SP) também são citados.
As delações estão sendo investigadas na Justiça Eleitoral, no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e pelas forças-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo e Curitiba.
De acordo com o que foi dito pelos delatores, Serra, que governou São Paulo entre 2007 e 2019, seria o maior beneficiado pelo esquema. Ele teria recebido no mínimo R$ 39,1 milhões por meio de contratos de obras de infraestrutura do governo do Estado, valor direcionado para caixa 2 de diferentes campanhas suas.
Todos negam as acusações.
As informações vieram de oito processos de improbidade administrativa que correm no TJ-SP contra Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, apontado pela Lava Jato como operador do PSDB. O acesso aos documentos foi obtido pelo UOL.
Os processos foram analisados em inquérito contra o senador José Serra no Supremo Tribunal Federal (STF), que arquivou parte do inquérito no final do ano passado e enviou o restante para ser apurado pela Justiça Eleitoral. A justificativa é de que os crimes teriam sido praticados com finalidade de financiar eleições e cometidos antes do senador iniciar o mandato.
Segundo o portal de notícias, nos documentos os delatores apresentaram supostas provas destas delações, como registro nos sistemas internos que computavam propina, troca de emails com políticos ou auxiliares, comprovantes de depósitos internacionais, números de contas e agendas e recibos de hotéis e restaurantes onde aconteciam as negociações. As provas foram usadas na condenação de Paulo Preto e nos outros processos e inquéritos que correm sobre o caso.
As campanhas de Alckmin, Serra e Kassab teriam sido abastecidas pelo cartel desde 2004, ainda na gestão de Alckmin no governo paulista, e se estenderam até pelo menos 2012. O então diretor de engenharia da Dersa, Mario Rodrigues, teria começado a organizar o cartel e cobrado propina de pelo menos R$ 30 milhões, valor que pode chegar até a R$ 40 milhões e está sob investigação da Lava Jato.
O pagamento seria proporcional entre as oito construtoras que participavam do acerto para ganhar a licitação do trecho sul do Rodoanel Mario Covas. Também foram apontadas propinas em outras obras viárias, na construção de linhas do Metrô da capital paulista e até propinas a "fundo perdido", pagas sem contrapartida imediata , com o objetivo apenas de "ficar bem" com Serra e seu grupo político.
Durante a gestão de José Serra em São Paulo, de 2007 a 2010, enquanto trabalhava no Rodoanel, a Odebrecht venceu diversas licitações: obras de recuperação do córrego Pirajuçara, o Lote 2 da recuperação ambiental da Baixada Santista, concessão do corredor da rodovia Dom Pedro I e lote 7 da linha 2 do Metrô de São Paulo, dentre outros grandes projetos.
Por fim, executivos da Odebrecht afirmaram que o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, secretário da Casa Civil na administração de Serra, teria recebido R$ 500 mil da Odebrecht para o caixa 2 de sua campanha ao Senado em 2010.
José Serra, em nota enviada à reportagem do UOL, reafirma que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus mais de 40 anos de vida política. "Serra espera que tudo seja esclarecido da melhor forma possível para evitar que prosperem acusações falsas que atinjam sua honra e ilibada trajetória pública", diz o texto.
Gilberto Kassab, em resposta ao UOL, afirmou que "desconhece tal informação e reafirma que as doações recebidas obedeceram a legislação vigente à época". Apesar de citado, ele não consta como investigado ou réu nos inquéritos e processos específicos sobre o Rodoanel paulista.
Geraldo Alckmin não respondeu aos questionamentos da reportagem e se manifestou apenas por meio de nota do PSDB. O partido afirmou, por meio de nota do diretório estadual, que obras públicas "nunca foram usadas com a finalidade de angariar recursos para contribuições eleitorais". "O que se tem notícia - e já é objeto de investigação e de ações judiciais reparatórias - é da prática de cartel contra a administração pública, levada a efeito por empresas privadas, mediante eventual participação de agentes públicos sem nenhuma relação com o partido, que igualmente deverão responder por seus atos perante o Poder Judiciário", diz o texto.
Procurados pelo UOL, por meio de suas assessorias de imprensa ou advogados, Aloysio Nunes Ferreira e Paulo Preto não responderam aos questionamentos da reportagem.