Chats obtidos pelo The Intercept Brasil através de fonte anônima constam que procuradores da Lava Jato planejaram vazamentos de informações estratégicas sobre a Operação à imprensa a fim de intimidar os suspeitos e incentivar as delações. Em abril de 2017, Deltan Dallagnol, procurador-chefe da força-tarefa, negou ao público que tal prática fosse feita.
As grafias originais das mensagens foram mantidas pela reportagem.
Os procuradores Orlando Martello, Carlos Fernando Santos Lima, debateram estratégias para firmar acordo de delação Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht, dois dias após a 14ª fase da Lava Jato, que apontou para as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez.
No dia 21 de junho de 2015, o procurador Martello disse: “Qual foi a estratégia de revelar os próximos passos na Eletrobrás etc?” e o colega Santos Lima, apesar de demonstrar desconhecimento sobre sua pergunta, afirmou: “Meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”.
Logo após, Deltan e Orlando anunciaram no grupo o vazamento de informações sobre a ajuda dos Estados Unidos na investigação de Freiburghaus. Segundo as mensagens, ambos informaram repórteres do Estado de S. Paulo antecipadamente, para pressionar o investigado.
Dallagnol teria sido o responsável direto do caso. Ele contou o caso para o repórter, que não teve sua identidade revelada, e pediu que seu nome não fosse publicado. “Hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off. Pode falar fonte no MPF”. O jornalista disse que a matéria seria publicada no mesmo dia e seria manchete no dia seguinte. Depois, Deltan comentou o feito no grupo com os procuradores: “Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto”, afirmou.
No dia seguinte, a manchete do jornal continha os dizeres: “Americanos vão ajudar a investigar a Odebrecht” e Deltan comentou no chat que a estratégia dessa ação era dizer a Bernardo Freiburghaus que ele “perderia tudo” e “colocar ele de joelhos e oferecer redenção”, para que o operador delatasse outras pessoas. Porém, isso não aconteceu.
Dallagnol negou publicamente que os agentes da Lava Jato jamais tinham feito um vazamento. Em entrevista para a BBC Brasil, o procurador proferiu que “agentes públicos não vazam informações” e que a brecha estaria no “acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”. Quando perguntado se a força-tarefa havia cometido vazamentos, o procurador respondeu: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.