Armando Monteiro Filho, ex-ministro da Agricultura no governo João Goulart, recorda em detalhes da última reunião ministerial, no dia 23 de agosto de 1954 , momentos antes do suicídio de Getúlio. “O Ministro da Guerra, General Zenóbio da Costa, disse: ‘Presidente, estou solidário com o senhor, mas tenho o dever de lhe dizer que haverá derramamento de sangue’. Alzirinha (filha de Vargas), de pé, interveio e disse era um movimento de generais sem tropa”, destaca Armando. Ele reforça que todos os presentes tiveram a oportunidade de descrever a Getúlio o cenário visto por cada um.
“O Ministro da Justiça, Tancredo Neves, opinou pela resistência na defesa do mandato popular do presidente e, consequentemente, da Constituição”, lembra ele. Diante de tanto nervosismo, o encontro teve o fim sentenciado por Vargas. “Já que os senhores não resolvem, eu decidi. Vou pedir uma licença até que se conclua o inquérito sobre o crime da Rua Toneleros (atentado contra Carlos Lacerda), disse o presidente.”
O presidente encerrou a reunião e se recolheu aos seus aposentos, mas a situação se agravou naquela madrugada não dando margem para que Getúlio continuasse no cargo. “Estou convencido de que essas notícias definiram a decisão trágica do Presidente Getúlio Vargas. Em 24 de agosto de 1954 ele pôs fim a própria vida para defender sua honra”, analisa Armando.
Para o ex-ministro, é significativo o bilhete do próprio punho: "À sanha dos meus inimigos deixo o legado na minha morte. Levo o pesar de não ter feito pelos humildes tudo o que desejava." Além desse havia escrito a Carta-Testamento cuja finalidade era ser utilizada em caso de resistência armada. “Penso que o Presidente julgou que não queriam somente sua deposição, e sim a sua desmoralização”, conclui Armando.