O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse neste sábado (16) que é "coisa de bandido" o relato do auditor da Receita estadual que acusa a campanha de reeleição tucana de ter sido abastecida por dinheiro desviado. O auditor Luiz Antônio de Souza, preso em Londrina (PR), disse ao Ministério Público, por meio de delação premiada, que a campanha de Richa recebeu cerca de R$ 2 milhões desviados dos cofres do Estado. Souza e outros 14 auditores e funcionários públicos são acusados de cobrar propina de empresários e, em troca, reduzir ou até anular dívidas tributárias de empresas.
"O Paraná não é bobo e sabe que há muitos interesses, principalmente políticos, tentando fazer um jogo sujo. Querem desviar o foco de problemas maiores, inventando acusações falsas", diz o governador tucano, em vídeo gravado em seu apartamento e publicado no Facebook.
Sem citar nomes, ele disse que seu governo está sofrendo uma campanha orquestrada, e que foi alvo nas últimas semanas de "ataques de todos os tipos". "Mas agora, passaram dos limites. Pegaram um criminoso, réu confesso, preso por abuso de menores para me acusar sem nenhuma prova. Coisa de bandido", disse ele. O auditor também é acusado pelo Ministério Público de exploração sexual de menores e foi preso em janeiro em um motel com uma menina de 15 anos. Souza admitiu a prática do crime.
O governador disse que vai enfrentar "essa guerra suja com determinação e a verdade", classificando as acusações como "baixaria". "O Brasil vive a pior crise econômica dos últimos tempos, mas nós aqui seremos parte da solução. O governo não vai ficar de braços cruzados. Nossa resposta será trabalhar mais e melhor, para que a crise do Brasil não engula o Paraná, que é terra de gente séria e trabalhadora", diz Richa. À reportagem, o secretário geral do PSDB no Paraná, Ademar Traiano, afirmou que as declarações do auditor Luiz Souza na delação premiada não merecem credibilidade.
"Me parece uma estratégia da defesa para tentar a redução de pena de um cidadão que roubou do Estado e que ataca a honra do governador na tentativa de criar fatos que não existiram. As declarações deste senhor não são respaldadas por prova alguma, mesmo porque a arrecadação financeira da campanha foi realizada dentro dos preceitos legais e aprovada pela justiça".
Traiano, que também preside a Assembleia Legislativa do Estado, disse que o governo de Richa, que enfrenta uma séria crise econômica e uma onda de protestos e greves de servidores públicos, está sendo alvo de uma campanha liderada pelo diretório nacional do PT. "Eles estão buscando a desconstrução de governos de oposição, tentando criar fatos, para retirar a atenção sobre escândalos do governo federal".
Segundo relato de Souza, o esquema no Paraná era comandado pelo então inspetor-geral de fiscalização da Receita, Márcio Albuquerque de Lima, que também está preso. Na versão de Souza, Márcio Lima agiria em nome de Luiz Abi Antoun, que se apresenta como primo de Richa e também já havia sido preso em outro caso - de suspeita de fraude em licitação do governo estadual. Ele responde as acusações em liberdade.
O teor do depoimento do auditor foi revelado pelo advogado Eduardo Duarte Ferreira, que assumiu a defesa de Souza nos últimos dias. Segundo o defensor, seu cliente contou aos promotores que, em fevereiro de 2014, foi convocado para uma reunião com Lima e afirmou que nela ficou estabelecido que o grupo deveria contribuir com R$ 2 milhões para a campanha de Richa à reeleição.
Durante o encontro, Lima teria dito que estaria cumprindo uma determinação de Luiz Abi Antoun. O advogado afirmou ainda que Souza confirmou que o grupo de auditores achacava empresas devedoras do fisco estadual havia pelo menos 10 anos. O PSDB do Paraná divulgou nota negando as acusações.