Estão sendo aguardados 1700 empresários para prestigiar a cerimônia de transmissão de cargo para o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro Neto (PTB), que acontece hoje, às 15h30, no auditório do Banco Central, em Brasília. O número é prova inconteste do quanto a nomeação do pernambucano agradou a classe industrial do País. O ex-senador tem trânsito livre e uma ótima interlocução com os empresários brasileiros, pela sua própria atuação como um deles e por ter presidido por 12 anos a Federação das Indústrias de Pernambuco e por sete a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Somente o seu nome já injetou no setor empresarial confiança e credibilidade, dois fatores que estavam em decréscimo nos últimos anos do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Armando Monteiro Neto, contudo, terá que exercer ao máximo sua criatividade para corresponder às expectativas, num ano que se vislumbra duro, com baixo crescimento e contenção e cortes na máquina pública.
O economista José Raimundo Vergolino frisa que o ministro vai enfrentar uma conjuntura difícil. “No primeiro momento, o controle fiscal muito grande, o que vai rebater na gestão dele e diminuir o poder de investimento, principalmente, na área de inovação”, explica. Para se ter uma ideia do contexto árido que o Brasil enfrenta, na mesma semana em que o ministro toma posse, o MDIC divulga que o País fechou 2014 com um déficit comercial de US$ 3,93 bilhões. Essa é a primeira vez, desde 2000, em que o ano encerra com o resultado das importações superando o das exportações. “Ele vai se defrontar com um mercado internacional em crise. Europa, o Japão, a Rússia, que é um grande comprador do Brasil. Só quem tem uma perspectiva boa de crescimento são os EUA. Acontece que o Brasil perdeu mercado exportador aos EUA, e teremos que recuperar isso”, pontua Vergolino.
Outro ponto difícil, acrescenta o economista, é que o BNDES, principal fonte de financiamento das indústrias brasileiras, perderá boa parte da injeção de recursos oriundos do Tesouro Nacional. “Isso complica a vida do empresariado, pois eles terão que recorrer a outros tipos de captação. Faz parte do pacote restritivo para equilibrar a economia”, coloca.
Previsibilidade e confiança foram duas palavras que não saíram da boca da oposição, durante a campanha, e são duas demandas do empresariado brasileiro, que andava insatisfeito com a gestão da petista. Entusiasta da nova gestão no MDIC, o presidente da Baterias Moura, Paulo Sales, entende que a prioridade deste primeiro ano vai ser rearrumar a economia, trabalhando de forma alinhada com Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), que sinalizam para uma política de “arrocho” em 2016. Recuperado o potencial de crescimento, a indústria vai voltar a investir, acredita. Duas outras pauta importantes também devem estar na rota do novo ministro: a produtividade e o aumento em pesquisa e inovação. “São problema culturais também. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo mas carrega o peso da burocracia”, diz.
Otimista com a nova gestão, o presidente do Sinditêxtil, Oscar Rache, acredita que, uma vez recriada as condições, a indústria voltará a investir sem medo. Destaca como meta a ser alcançada o aumento da exportação. “A nossa participação é de pouco mais de 1%. Poderia ser 4%. Precisa confiança e custo baixo. Nenhum país no mundo cobra de quem exporta. O Brasil sim. O ministro sabe disso”.