Reunidos no mesmo “palanque” para homenagear o ex-governador Eduardo Campos, que completaria 50 anos na segunda (10), adversários políticos aproveitaram o momento para fazer discursos “olho no olho” sobre a crise política vivida pelo País. A todo tempo, os políticos, sejam pró ou contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), usaram a figura, discursos e “ideário” do líder socialista, falecido num trágico acidente aéreo em agosto de 2014, para mandar seus recados.
Representando o governo federal, o ministro da Defesa, Jacques Wagner (PT), um dos homens fortes da presidente, retomou a frase-slogan de Eduardo Campos para defender o governo e fazer um sinal pela união àqueles que pensam de forma divergente. “Não vamos desistir do Brasil, como ele dizia, porque nós temos um ideal, de defesa da democracia, da inclusão social, de respeito às diferenças, da prosperidade. E vamos construir com altos e baixos, com divergências que são super bem vindas na democracia, que se não fosse não teríamos propulsão para caminhar, mas sempre colocando aquilo que é fundamental: o interesse do País na frente”, disse.
Ele ainda fez um afago à ex-ministra Marina Silva (PSB), adversária da presidente na campanha de 2014. “Como Marina colocou muito bem, a verdade nunca está na cabeça de um só, está na produção coletiva. E maiores são os políticos como Eduardo que sabia ouvir, costurar e construir pontes”, finalizou. Já de saída do evento, Marina, em entrevista a jornalistas, criticou quem olha para a crise para tirar vantagens. “Nesse momento, precisamos assumir dois trilhos. O trilho da investigação, que deve ser feita pela Polícia Federal, pelo juiz Moro, com toda autonomia e apoio. E o trilho dos rumos da nação. Não se pode olhar para a crise para tirar vantagem, mas sim para resolvê-la”, pontuou.
Um dos quadros socialistas que defende o governo Dilma, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), criticou, ainda que de forma sutil, os posicionamentos pró-impeachment. “Os diferentes que disputem no momento adequado, que é nas eleições”, frisou. Para se contrapor aos discursos extremados, ele evocou também a figura de Eduardo que, segundo ele, “não concordaria com a quebra de qualquer institucionalidade”. Defendeu, ainda, que a saída para a crise é uma “grande consertação (sic) democrática” e que não “poderíamos regredir”.
Também exaltando Eduardo Campos, o senador Aécio Neves (PSDB), presidente nacional da legenda, aproveitou para rejeitar a crítica de que a oposição esteja agindo sem “responsabilidade”. “A palavra dele (Eduardo) não seria muito diferente dos que aqui falaram. De cobrança, sim, daquilo que deve ser cobrado, de denúncia, sim, em relação àquilo que deve ser denunciado, mas acima de tudo de absoluta responsabilidade com o Brasil”, bradou. Na sua argumentação, ele fez questão de frisar que os “governos são passageiros e circunstanciais”, ao contrário do “Brasil que está aí para ser construído olhando para o futuro e não apenas para os dias de hoje”.
Indicado pelo PSB e família de Eduardo para discorrer sobre a crise, o economista Paulo Rabello foi o que fez as críticas mais duras à gestão do governo federal, que, para ele, empurrou o País para “a mais grave crise financeira nesse início de milênio”. Por fim, ele enalteceu o governador Geraldo Alckmin (PSDB), também presente, e o comparou a Eduardo. “É desse tipo de homem de que precisamos para governar o Brasil”, exaltou. O economista ainda conclamou todos a protestar no dia 16 de agosto, quando está marcada uma marcha contra Dilma.