A Câmara dos Deputados definiu o dia do lançamento do documentário sobre Marco Maciel produzido por uma equipe de jornalistas da Casa. O vídeo, com 44 minutos de duração, irá ao ar no dia 5 de agosto, às 21h30, na TV Câmara e depois ficará disponível no site www.camara.gov.br (assista a um trecho abaixo). O pernambucano, que completa 76 anos nesta quinta-feira (21), será homenageado por sua trajetória política. Além de vice-presidente da República, Maciel foi governador, senador, deputado federal e ministro.
Marco Maciel está fora da vida pública desde 2010, quando perdeu a eleição para senador. Atualmente, ele mora em Brasília e está aos cuidados da esposa, Anna Maria Maciel. No mês passado, ela conversou com a reportagem do Jornal do Commercio e falou sobre o estado de saúde do pernambucano, que sofre com o Mal de Alzheimer e chega aos 50 anos de vida pública em 2016.
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Para produzir o vídeo sobre Marco Maciel, os jornalistas da TV Câmara percorreram Brasília e as cidades do Recife e São Paulo. A maior parte dos documentários produzidos pela Câmara dos Deputados tem depoimento dos homenageados, mas devido ao estado de saúde do ex-senador pernambucano a equipe de documentaristas buscou reconstruir a história dele a partir do depoimento de amigos, familiares e políticos.
Entre os entrevistados, estão Anna Maria, que vive há mais de 50 anos com Marco Maciel, o ex-governador Gustavo Krause e o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, pernambucanos, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e o senador Cristovam Buarque. Assessores próximos a Marco Maciel, que trabalharam com ele por décadas, também dão depoimentos.
O documentário da TV Câmara foi intitulado Marco Maciel: a política do diálogo e tem direção e roteiro da jornalista Dulce Queiroz. A edição e finalização é de Felipe da Cunha e Guem Takenoushi. A produção foi de João Gollo e Lia Tavares. A direção de fotografia ficou a cargo de Kátia Coelho e as imagens são de Cícero Bezerra, Ulov Flamínio, Flávio Estevam e Claudio Adriano. A trila sonora orignal é de Alberto Valério. Toda a equipe atuou sob a coordenação do Núcleo de Documentários da TV Câmara, chefiado por Guga Caldas.
Marco Maciel é considerado pelos aliados como um político que se destaca na articulação política, gentileza no trato e ética com os recursos públicos. "Ele era um estadista. Poderia ser o primeiro-ministro porque trabalhava construindo pontes e tinha a chamada coragem da conciliação, mas era defensor do presidencialismo", afirma o ex-governador Gustavo Krause, afilhado político de Marco Maciel.
Para a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, era fácil trabalhar com Marco Maciel. Ela fala sobre o período em que serviu ao amigo dos tempos da faculdade de Direito no governo estadual. "Ele só fazia duas operações: somar e multiplicar. Não era de impor nada e tinha enorme capacidade para agregar", atesta.
Os aliados de Maciel dizem que a gentileza do ex-senador era natural, fruto de um perfil que misturava erudição, respeito ao próximo e um forte senso de religiosidade. Ele sempe viajava com uma Bíblia nas mãos, rezava o terço nas primeiras horas de qualquer viagem e não perdia uma missa onde quer que estivesse.
Outra característica de Maciel enquanto foi atuante em Brasília oi Pernambuco era encarar a política de maneira profissional. Isso significava se indispor com o menor número possível de pessoas e somente se fosse inevitável para deixar o máximo de portas abertas.
"É comum na política que seja tudo para o aliado e nada para o adversário. Mas ele não era assim. Quando ia para um comício em alguma cidade, dizia que não podia deixar de acomodar as outras lideranças. Pensava em todos os detalhes. Era um político profissional nesse sentido", conta o secretário das Cidades de Pernambuco, André de Paula, outro afilhado político de Maciel.
De maneira prática, esse profissionalismo se manifestava nas respostas a lideranças políticas assinadas à mão, no envio de cartões de aniversário e Natal com mensagens pessoais e em outros gestos. "Quando perdi minha primeira eleição, ele me ligou e me deu uma palavra de conforto mesmo sem eu ser do partido dele", relembra André Régis (PSDB), hoje vereador do Rercife.
Os elogios vêm também de ex-adversários. "Ele fazia política de maneira elevada, não cometia agressões", enfatiza o senador Humberto Costa (PT), que venceu Maciel nas eleições de 2010.
A ligação de Marco Maciel com os militares sempre foi usada por seus adversários como uma fote de críticas ao currículo macielista. Em 1977, quando o então presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso com o chamado Pacote de Abril, Maciel era filiado à Arena e presidia a Câmara dos Deputados.
"É evidente que a iniciativa dos militares contou com a convivência ou mesmo o apoio dele", diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco.
Para os aliados de Maciel, é um erro apontá-lo como conservador devido à relação com os militares. "Ele era um liberal", diz Guilherme Codeceira, seu assessor por três décadas.
Ex-secretário estadual da Casa Civil quando Maciel governou Pernambuco, a desembargador e presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, também defende aliado. "Ele não estava contamiando pelo regime. Foi importante que tivesse alguém do ponto de vista moral dele para fazer a ponte com a sociedade', diz.
O ex-governador Gustavo Krause afirma que Maciel teve papel importante na redemocratização do Brasil e nas costuras políticas que levaram à escolha do civil Tancredo Neves para presidir o País. "Ele foi um artífice da democracia, principalmentenos momentos mais duros. Tinha capacidade de conviver com a divergência e sempre buscou consensos", podenra.
A declaração de Krause é reforçada pelo cientista político Túlio Velho Barreto. "Maciel teve um importante papel no processo da 'chamada 'transiççao pactuada', feita a partir de acordos entre os reformadores do regime militar e a oposição moderada", opina.
Para Túlio Velho Barreto, Marco Maciel soube aproveitar as chances surgidas durante o regime milita e em seguida teve habilidade e capacidade de articulação para se impulsionar politicamente. "Ele foi o mais importnate líder político da direita e dos segmentos conservadores em Pernambuco na segunda metada do século 20", avalia.