Candidatos a prefeito da região onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nasceu, no interior de Pernambuco, estão ignorando a imagem do petista como cabo eleitoral na campanha deste ano. O cenário é diferente do pleito municipal de 2012, quando a maioria dos candidatos dessas cidades do agreste pernambucano "brigava" pelo apoio do ex-presidente.
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Em Garanhuns, onde Lula nasceu, o atual prefeito, Izaías Régis (PTB), tenta a reeleição com o PT em sua coligação, mas evita usar a imagem do ex-presidente petista na campanha.
Em seu comitê, no material impresso e nas redes sociais, o único cabo eleitoral dele é o senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-ministro da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e provável candidato ao governo de Pernambuco em 2018.
"Que existe um pouco de precaução, tem que existir. Todo dia a mídia só é pau (contra Lula). Aí você vai fazer o quê? Vai defender uma coisa que a mídia está dizendo que não. É um negócio absurdo", disse Régis. "Nas redes sociais é: 'Lula se torna réu'. Então está divulgando em todo canto. Fica difícil se atrelar à imagem."
O prefeito, em 2012, quando disputou a prefeitura de Garanhuns pela primeira vez, fez questão de que o ex-presidente da República gravasse um vídeo declarando apoio a ele. Naquela campanha, Régias chegou a acionar a Justiça para impedir que seu adversário Zé da Luz (então do PHS, hoje no PSB) também usasse a imagem de Lula como cabo eleitoral. Luz, que já foi filiado ao PT no passado, usava a imagem do ex-presidente sob o argumento de que sempre esteve ao lado dele.
Neste ano, Zé da Luz apoia o vereador Sivaldo Albino (PPS) para prefeito de Garanhuns. "Se nem o partido que é aliado (do PT) usa, imagine nós. É um grande risco usar a imagem. Por via das dúvidas, é melhor não usar", disse Albino.
Em Garanhuns, o PT é comandado por Pedro Passos, candidato a vereador. Passos, que até o início da campanha era secretário de Juventude da gestão de Izaías Régis, é praticamente o único dos candidatos na cidade que usa a imagem de Lula e Dilma em seu material.
Em Caetés, cidade onde fica o sítio onde Lula nasceu e que, na época, era um distrito de Garanhuns, a situação se repete. O prefeito, Armando Duarte (PTB), tem ignorado a imagem de Lula em sua campanha à reeleição. No comitê, no material impresso e redes sociais, o senador Armando Monteiro é o único cabo eleitoral.
"Pela polêmica toda que está acontecendo com Lula, as pessoas estão se reservando um pouco", afirmou o estudante de Direito Gustavo Pessoa, 19 anos, presidente do PP em Caetés e um dos coordenadores da campanha de Duarte. "Existe uma reserva, mas atrapalhar não atrapalha, não", disse.
Diferentemente desta campanha, Duarte recorreu à imagem de Lula em 2012, quando se elegeu prefeito pela primeira vez. Na época, disputou o cargo com José Luiz Sampaio (PSB), filho de Zé da Luz e para quem o ex-presidente petista também gravou um vídeo pedindo votos. Na cidade, o PT está sem comando e não tem representantes na Câmara Municipal.
"Ele (Lula) é igual ao Pablo Escobar (narcotraficante colombiano)", comparou o mecânico Jeferson Carvalho, 22 anos, ao comentar a atuação do ex-presidente e do narcotraficante voltada às classes mais pobres. Carvalho nasceu em Santo André, no ABC paulista, e se mudou para Garanhuns aos cinco anos.
O mecânico disse não acreditar na inocência de Lula e criticou o petista. "O que ele roubou está recaindo sobre a gente. Estão tendo que arrancar do povo para tapar o buraco que ele roubou", afirmou. Mesmo assim, Carvalho disse que votaria no petista novamente. "Dos piores, ele é o melhor. Ele conseguiu roubar e ajudar a galera. Os outros não."
A agricultora Luiza Feliciano de Oliveira, de 42 anos, pensa da mesma forma. "Ele vacilou, mas, mesmo assim, votaria nele. Ele, Miguel Arraes (ex-governador de Pernambuco e avô de Eduardo Campos) e Dilma fizeram muito pela gente", disse a agricultora, para quem o programa Bolsa Família, do qual é beneficiária, foi uma das melhores "criações" de Lula.
Para a vendedora ambulante Carmen Lúcia Alves, 49 anos, os acertos de Lula foram maiores do que os erros. "Se ele tiver roubado, ainda foi o melhor presidente do Brasil", afirmou. Ela, que também recebe o Bolsa Família, disse que melhorou de vida durante o governo petista. "Como ambulante, já andei duas vezes de avião, porque Lula permitiu. E quero andar de navio."
O agricultor Cícero Gonçalves da Silva, de 61 anos, reconheceu que as denúncias contra Lula têm afetado a imagem do ex-presidente na população da região. De seus cinco irmãos, dois não votam mais no petista, segundo ele. "No distrito que moro, uns querem ele, outros, não. Mas eu continuo com ele, porque ele foi bom para a gente", disse Silva.
Em Caetés, o professor de História aposentado Rafael Brasil, 57 anos, é opositor ferrenho de Lula e do PT. "Sou contra o PT ideologicamente, mas me decepcionei também com as atitudes. Dava a cara a tapa achando que eles iam dar um baile contra a corrupção", afirmou o professor, que disse ser "comunista na juventude".
O professor aposentado afirmou ainda que sofre "perseguição" na região por ter um posicionamento político considerado "de direita". Ele disse que tem tentado arranjar emprego como professor em colégios e universidades particulares, mas tem sido rejeitado por causa de sua posição política. "Diga que é de direita dentro de uma faculdade de História. Você é apedrejado."