Os locais de votação do Recife amanheceram hoje (02) repletos de panfletos e santinhos de candidatos. A prática, de acordo com Lei das Eleições 9.504/97, é crime eleitoral e o autor pode ser preso, caso seja pego em flagrante. Muitos eleitores que aproveitaram a tranquilidade das primeiras hora de eleição para votar reclamaram da sujeira.
Na escola Professor Jordão Emerenciano, bairro do Ibura, maior local de votação do Recife, o movimento era maior. O material de campanha jogado no chão dividia espaço com engarrafamento no trânsito e com eleitores e vendedores ambulantes na calçada. Como Pernambuco não proibiu o consumo de bebida alcoólica no dia da votação, ambulantes comercializavam inclusive cerveja nos arredores da escola.
Para dona Euride (foto), o voto é também uma resposta à situação que a deixou sem uma perna, há sete meses: “Eu perdi a perna porque não tinha material para fazer curativo em posto de saúde. Me mandavam para lá e para cá. Acabei fazendo em casa”. Ela contou ainda que o impeachment da presidenta Dilma vai influenciar diretamente na sua escolha de candidatos, já que não vai votar em políticos que apoiaram o afastamento da ex-presidente.
Já o auxiliar de cozinha Edmilson de Almeida Moura, 48 anos, defendeu o afastamento de Dilma e disse seu voto não será influenciado por isso. "Ela fez um governo bom, mas deixou a desejar e o impechment foi necessário para ver se fazem melhor”. Cadeirante, Moura disse que que mesmo podendo justificar o não comparecimento à urna, sempre faz questão de comparecer. “É dever do cidadão. Para reclamar meus direitos tenho que dar exemplo. Tem que participar da eleição para depois saber quem o cidadão colocou para liderar ele mesmo”, ensina.
“Ontem de manhã estava tudo limpo, devem ter jogado hoje de madrugada. Depois entope bueiro e alaga rua”, criticou a psicóloca Ana Barros, 38 anos, que votou no segundo maior local de votação do Recife, o colégio Santa Maria, no bairro de Boa Viagem, na comapnhia da filha pequena: “para poder passar lição de cidadania. É importante vir escolher o candidato certo, porque está nas mãos da gente o futuro e o futuro, daqui pra frente, é ela.".
A votação começou tranquila no Colégio Santa Maria, com filas pequenas nas seções. Muitos idosos e famílias com crianças foram votar nas primeiras horas do pleito. “Como cidadão, a obrigação vem primeiro”, disse Byung Kuk Lee, de 80 anos. Alguns eleitores que foram ao colegio eleitoral tiveram problemas com o reconhecimento de digitais, especialmente os idosos. A avó de Ana Barros, Aderita Barros, 82 anos, foi uma delas. “Acho que é a idade mesmo, que vai desgastando a digital. Mas eu votei, é só assinar”, ensina.
Em meio a tudo isso, eleitores com deficiência enfrentaram dificuldade para chegar ao local de votação. Caminhando lentamente com a ajuda de um andador, a aposentada Euride Maria Ferreira de Lima, 61 anos, contava com a ajuda da neta de 15 anos para se deslocar no meio das pessoas que entravam e saíam do colégio: "Eu gosto de votar”.
Ao todo, 1.119.271 pessoas votam no Recife. Mais da metade (55%) é mulher e a faixa etária mais numerosa é de 30 a 34 anos, com 11,3% do eleitorado. Quanto ao grau de instrução, os cidadãos aptos a votar com o ensino médio completo ou incompleto são maioria (42,39%). Em seguida, vem os com curso superior concluído ou não (27,36%); seguido dos que tem ensino fundamental completo ou incompleto (24,93%). Analfabetos totais e funcionais somam 5,31% do eleitorado.
De acordo com a última atualização do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) 147 urnas apresentaram problemas técnicos, das quais 11 delas precisaram ser substituídas em oito municípios.
O balanço parcial do TRE-PE registra 25 ocorrências de crimes eleitorais, que resultaram em sete prisões. Em Riacho das Almas, quatro pessoas foram por tentativa de compra de voto. A compra de voto motivou prisões também em Altinho (1) e Bonito (1). No Recife, a justiça eleitoral registrou uma prisão em flagrante por boca de urna. Durante a madrugada, outras 27 pessoas foram detidas no município de Itaíba por crimes relacionados à compra de voto, boca de urna e propaganda eleitoral.
A Polícia Federal (PF) também fez uma prisão em flagrante ontem: o candidato a prefeito do município de Camutanga, Doda Soares (PR), foi flagrado com R$ 11.549 dentro de um veículo no município de Ferreiros. Segundo a corporação, havia “fortes indícios" de que tal dinheiro seria utilizado para compra de votos.
Na sexta-feira (30) a PF, em conjunto com as polícias estaduais, cumpriu três mandados de busca e apreensão em imóveis do candidato e de seu vice. Foi apreendida relação de eleitores e benefícios como material de construção, próteses, R$ 30 mil em espécie, passagens aéres, combustível e medicamentos. Doda Soares pagou fiança de R$ 80 mil e vai responder em liberdade.